Ontem não fui à manifestação que
tomou as ruas do Brasil. Escolhi participar da Ceia do Senhor e do Batismo em
Águas: ordenanças que aconteceram neste domingo na igreja em que congrego ―
nada melhor do que vê nascidos de novo confessarem Cristo publicamente diante
de Deus, da família e da Igreja. Creio piamente que o Brasil só será diferente
quando grande parte do seu povo tiver um verdadeiro encontro com o Evangelho de
Cristo (não o que se prega em nome dEle) e um sincero avivamento de dentro para
fora acontecer nas igreja evangélica brasileira (o sinal claro desse avivamento
é a quebra de um sistema de governo que emperra qualquer iniciativa simples e
espontânea de um discípulo de Cristo). Entretanto, muitos irmãos em Cristo
escolheram ir às ruas no dia de ontem.
Esses irmãos em nada “pecaram”
contra o Senhor e à Igreja. É inadmissível em pleno século XXI, num momento
crucial em que vivemos em nosso país, líderes religiosos dizerem: “crente não
faz passeata, crente ora e jejua”. Com todo respeito a quem pensa diferente:
crentes em Jesus ora e jejua, mas faz passeatas sim, desde que pacificamente.
Não há pecado nisso, não há falta de fé, nem muito menos rebelião contra o governo
central ― o nosso sistema governamental é tripartite: Poder Legislativo, Poder
Executivo e Poder Judiciário; isto é, o presidente da república tem limites bem
demarcados para exercer a sua função. E graças a Deus a nossa Constituição é
democrática e quando o povo decide ir às ruas de maneira pacífica, ele está
amparado constitucionalmente: “Todo
o poder emana do povo, que o exerce por meio de representantes eleitos ou
diretamente [indo às ruas, colhendo assinaturas para fazer aprovar leis como a
Ficha Limpa, etc.], nos termos desta Constituição” (Artigo 1º, parágrafo
único da Constituição Brasileira). O
povo nas ruas é como se fosse o cliente que pagou pelo serviço e foi lesado
pela empresa prestadora desse serviço. É direito desse cliente de reclamar,
processar e denunciar a empresa que o lesou. De certo modo, a presidência da
república, as empresas estatais e o funcionalismo público são servidores da
sociedade brasileira. Eles têm contas a prestar aos cidadãos que pagam impostos
― e impostos altíssimos. De fato, neste domingo, a sociedade resolveu pedir
contas e deu um recado claro à presidente da República e ao Partido dos
Trabalhadores: não aguentamos mais o jeito de vocês governarem.
Portanto, oremos e jejuemos, mas saiamos
às ruas quando necessário. Sempre de forma pacífica, responsável e coerente, pois
é um direito assegurado pela nossa Constituição. Como cidadãos, devemos cumprir
a Constituição Brasileira e reclamá-la quando quem deveria fazer cumpri-la se
omite: “Aquele, pois, que sabe fazer o bem e o
não faz comete pecado” (Tg 4.17).
Deus
abençoe a nossa nação!
Paz
e Bem!
P.S. 1 Quem pediu intervenção militar
(diga-se: uma minoria em relação ao amplo movimento) não viveu o tempo da
ditadura, e talvez nem saiba o que está sob a tutela de um governo despótico,
seja essa ditadura de direita ou de esquerda. Além do mais, a intervenção
defendia por alguns dentro do amplo movimento é inconstitucional e
antidemocrática e, definitivamente, não resolverá o problema do país. Uma, das
poucas cenas lamentáveis desse grandioso movimento nacional.
P.S. 2 Sou contra o impeachment da
presidente, pois não há fatos concretos contra ela. Diferentemente do único
presidente impedido pelo Congresso de governar, em que foi constatado depósitos
não explicados nas contas particulares da secretária, do mordomo, da ex-mulher
e da mãe, e despesas pessoais pagas pelo tesoureiro do seu partido, não há nada
concreto nesse período de 3 meses de mandato que responsabilize a atual
presidente da República. Trocar governo
não é como trocar de roupas. A sociedade precisa continuar cobrando, na
esperança de que o Brasil retome o trilho até 2018, onde então, democraticamente
e constitucionalmente, teremos direito de dar um sonoro “nãoooooooo” ao governo
atual.
P.S. 3 É perfeitamente possível o
Brasil ser o país do futebol e da política. Todo ato político é simbólico. E
não houve nada mais simbólico do que as cores amarela e verde invadirem as ruas
de nosso país. Diferente de sexta-feira, em que militantes pró-Dilma foram
pagos pelos sindicatos, bancados por nós por intermédio das verbas públicas,
escolheram as cores vermelhas do comunismo; os brasileiros preferiram o verde e
o amarelo do Brasil e o hino nacional para dizer “basta!”. Não somos
comunistas, somos brasileiros!
P.S. 4 Os crentes, como qualquer
trabalhador brasileiro, não têm tempo de fazer passeata no dia de semana em
pleno horário de expediente. O que resta é o período de tempo após o expediente
(como aconteceu em junho de 2013) ou o domingo.
P.S. 5 Se na rua de acesso a uma igreja
local passa uma ponte sobre um rio, cujas grades que protegem as pessoas de caírem
nesse rio estão enferrujadas e quebradas há tempo, apenas esperando a primeira vítima
para, em seguida, o órgão público responsável tomar a iniciativa que lhe cabe;
o que impede uma igreja local de tirar fotos daquele fato, documentá-las,
colher assinaturas de moradores e formalizar uma reclamação ao órgão público
responsável? É mais produtivo para uma instituição religiosa ilibada denunciar o
descaso público e solicitar a tomada de providência da questão do que uma
pessoa física tentar fazê-lo. Mas após de o problema resolvido, virá a maior
tentação da liderança local: a autoridade pública que solucionou a questão
visitará a igreja a fim de receber dividendos eleitorais pela sua ação. É nesta
hora que a Igreja Local deve dar “a César o que é de César”, isto é, agradecer
gentilmente à autoridade pública por atender a reclamação da sociedade; mas igualmente
“a Deus o que é de Deus”, ou seja, deixar claro para a autoridade que o que ela
fez não foi mais do que a sua obrigação, e não o fez à Igreja, mas a sociedade
que, consequentemente, a igreja está situada e que, acima de tudo, respeita os
seus membros moradores daquela região e que precisam de acesso decente para ir
e vir: o direito básico fundamental de qualquer cidadão. Aqui se faz ouvir mais
ainda a advertência de Tiago, o irmão do Senhor: “Aquele,
pois, que sabe fazer o bem e o não faz comete pecado” (Tg 4.17).