Marcelo Oliveira
de Oliveira
A
salvação em Cristo abrange poucas pessoas escolhidas pelo decreto de Deus ou
qualquer ser humano que se arrepende de seus pecados e crê no Unigênito Filho
do Pai?
Esta lição retoma uma discussão de
séculos, que no lugar de origem dela se encontra superada, mas floresceu aqui
no Brasil. Em primeiro lugar é importante ressaltar que não podemos fazer da boa
exposição teológica um campo de batalha e de agressões pessoais, pois quem se
compreende tanto arminiano quanto calvinista herdarão o mesmo céu. Entretanto,
é verdade que nós, os pentecostais, nos identificamos mais com a teologia
clássica arminiana, que infelizmente, e é verdade, encontra-se desconhecida por
muitos pentecostais.
Uma teologia que
destaca o caráter amoroso, bondoso e justo de Deus
Diferente
do que muitos propalam, a teologia arminiana não está centrada no
livre-arbítrio humano, mas no caráter amoroso e justo de Deus. Segundo o
teólogo Roger E. Olson, na obra Teologia
Arminiana: Mitos e Realidades, a preocupação primária de Jacó Armínio foi o
compromisso com a bondade de Deus, sendo Jesus Cristo a maior e a melhor prova
de que o caráter do Criador foi revelado nas Escrituras como compassivo,
misericordioso, amável e justo. Ora, a epístola de Paulo aos Colossensses diz
que em Cristo “habita corporalmente toda a plenitude da divindade” (Cl 2.9). De
modo que um dos Evangelhos narra essa mesma verdade da carta paulina, pronunciada
e confirmada pelo próprio Senhor Jesus (Jo 12.44,45; cf; Jo 14.9-14). Por isso,
como Roger Olson, podemos afirmar objetivamente sobre Armínio: “Sua teologia é
cristocêntrica”. Sim, é uma teologia que enaltece o nosso Senhor Jesus e exalta
o Deus Pai Todo-Poderoso.
Uma teologia que
destaca a vontade de Deus salvar todas as pessoas
Baseado nessa compaixão,
misericórdia, amor e justiça que o plano salvífico divino, executado por Jesus
Cristo, o seu único Filho, proveu salvação ao ser humano. Em Jesus, Deus se
mostrou misericordioso, bondoso, amoroso e justo; logo, não haveria o porquê de
o Pai enviar o seu Filho, fazê-lo passar pelo processo de crucificação, morte e
ressurreição, ordenando os discípulos, após de batizados no Espírito Santo, que
proclamassem o Evangelho a toda a criatura (Mc 16.15; cf. At 1.8), tivesse como
objetivo salvar um “grupo fechado de pessoas”. A partir dessa ordem estava
clara a intenção de Deus, desde a fundação do mundo, de salvar integralmente o
ser humano e, com base em sua bondade, amor e justiça, e por intermédio do
Espírito Santo, a partir da graça preveniente, dar condição ao ser humano de
não resistir a maravilhosa oferta de salvação. Entretanto, o Senhor Jesus
deixou patente a responsabilidade humana, e as suas implicações, de rejeitar
consciente e deliberadamente a salvação operada por Deus em Cristo Jesus (Jo
3.16-18). Aqui, o livre-arbítrio na
teologia de Armínio torna-se secundário, pois o que se destaca claramente são o
amor, a bondade e a justiça de Deus.
Texto
publicado, mas levemente adaptado, na revista Ensinador Cristão, nº 72, Editora CPAD, 2017, p.39.