segunda-feira, 11 de junho de 2012

QUAL O LIMITE DO HUMOR CRISTÃO

P.S.  A decisão do pastor Ricardo Gondim (http://www.ricardogondim.com.br/50anos/recesso-preciso-de-um-tempo ), só reforça o que postei abaixo nesse espaço. Antes de criticarmos ou discordamos de um pensador; pensemos que por trás dele há um pai, um filho, uma pessoa ou um pastor de uma comunidade inteira, que deposita nele toda confiança pastoral. Quero me solidarizar a Ricardo Gondim e a todos aqueles que, por exercer o ofício de pensar a fé, são bombardeados, não só na esfera do pensamento, mas na sua vida pessoal, social e psicológica. Deixo aqui, minha consternação e oração de lamentação!
 


Antes de iniciar a análise do objeto proposto neste espaço, quero esclarecer meu pleno compromisso com a liberdade de expressão. Acredito que o desenvolvimento em qualquer país, inclusive o da igreja local, no que tange a sua administração, passa pelo fortalecimento de suas instituições democráticas ― os poderes Legislativo, Executivo e Judiciário. E, indubitavelmente, pela livre expressão de pensamento via disponibilidade dos diversos meios de comunicação; seja o pensamento de caráter religioso ou filosófico.  
Isto posto, passo a analisar um fenômeno relativamente recente no espaço virtual evangélico: o Humor Cristão. Este é protagonizado por “blogs” e “sites” ditos “apologéticos” ― uso o termo “apologéticos” entre aspas para afirmar categoricamente, que nesses espaços o que se faz não é um exercício apologético, mas o polêmico. Todavia, não é esta a hora apropriada de adentrar na querela.
O humor cristão desenvolve uma abordagem satírica sobre personalidades supostamente ameaçadoras à reta doutrina cristã do meio evangélico brasileiro. Antes promovido nos arraiais ditos seculares ― o humor é um gênero artístico que foi (e é) muitas vezes usado para criticar a ditadura, a corrupção, a censura, etc. ―, a modalidade artística do humor ganhou ares no sagrado. Agora denominado cristão, ele é uma realidade presente no espaço virtual evangélico e até mesmo em alguns segmentos eclesiásticos sociais. Estes últimos, o exercem na informalidade, tendo como principal objetivo o entretenimento. Portanto, não há nenhum compromisso em discutir conteúdos da fé cristã.
O objetivo dessa manifestação virtual, dizem os representantes do movimento, é responder “apologeticamente” os desvios e as insanidades idealizadas em nome da fé dentro do movimento evangélico brasileiro. Logo, nessas insanas idealizações, são passíveis de críticas o pentecostalismo clássico, o pseudopentecostalismo e o neopentecostalismo. É bem verdade que “o movimento virtual apologético” procura desassociar o pentecostalismo clássico do pseudo e do neo. Mas poucos são os esforços para se fazer justiça à seriedade do desenvolvimento teológico pentecostal que vem crescendo nacionalmente. 
Nesses espaços virtuais, há interessantes manifestações para o público evangélico. Pois elas desnudam as práticas perniciosas ao Evangelho genuíno, usando da instrumentalidade inteligente e leve ― por que não dizer jocosa — sátira (as vezes sarcástica). As práticas antibíblicas desenvolvidas por alguns setores da igreja evangélica são os seus alvos, como por exemplo: a famigerada “Teologia da Prosperidade”, o “Movimento da Confissão Positiva” e os “Ministros da Palavra” que fazem negócios dela, explorando o povo de Deus ― estes últimos mais conhecido através dos televangelistas da prosperidade.
     É importante ressaltar que, como tudo na vida, nessa nova modalidade de expressão evangélica tem de haver limites muito bem demarcados. Pois do contrário, poderá se tornar apenas um emaranhado de piadas de mau gosto e simples exposição de pessoas.  
    Então, qual é o limite do humor cristão? O que deve regê-lo? Sem dúvida, são os princípios eternos da Palavra de Deus. Nela, encontramos conselhos contemporâneos para lidarmos sabiamente com o assunto ora exposto.
Analise comigo estas duas porções bíblicas: “Amarás, pois, ao Senhor, teu Deus, de todo o teu coração, e de toda a tua alma, e de todo o teu entendimento, e de todas as tuas forças; este é o primeiro mandamento. E o segundo, semelhante a este, é: Amarás o teu próximo como a ti mesmo. Não há outro mandamento maior do que estes” (Mc 12.30,21). Esses dois mandamentos denotam duas observâncias elementares que devemos certificar antes de tecer qualquer comentário, contra ou a favor de alguém; ou se posicionar a respeito de qualquer assunto cujo alvo seja pessoas: a primeira é o temor ao Senhor; e a segunda, o respeito pelo próximo.
O teólogo alemão Dietrich Bonhoeffer quando comenta sobre o “desdenhador dos Seres Humanos”, em sua obra Ética, diz: “Deus ama o ser humano. Deus ama o mundo. Não um ser humano ideal, mas o ser humano como ele é, não um mundo ideal, mas o mundo real”. Complementando esse pensamento, Bonhoeffer ainda afirma: “Enquanto nós distinguimos entre piedosos e ímpios, bons e maus, nobres e ordinários, Deus ama o ser humano real sem distinção”. O teólogo alemão tem razão quando nos lembra que o ser humano idealizado por nós nem sempre é o existencial, o real. E a igreja idealizada em nossas mentes nem sempre é a real, a existencial. No entanto, ambos, ser humano e igreja, quando idealizados, mas não compreendidos na realidade existencial, não deixam ainda de ser o que são: obras criadas diretamente por Deus, segundo o conselho de sua sabedoria. E, portanto, são objetos do seu imenso e sublime amor.
Então, evoco os princípios de Marcos 12.30,31 para mostrar o risco de, ignorando tais observações, se cometer precipitações, exposições desnecessárias e injustiças com pessoas. Não podemos cometer os mesmos erros da mídia secular ― que em segundos acaba com a reputação de pessoas cujos anos foram muitos para constituí-la.
Voltando à mídia de natureza humorística evangélica, passo a exemplificar dois casos que demonstram o caminho tórrido que alguns espaços virtuais evangélicos podem trilhar com naturalidade. Lembro-me duma matéria veiculada em um blog. Era a exposição de uma simples irmã em estado de êxtase espiritual (não julgo aqui a legitimidade da experiência). Ela foi colocada como escárnio nacional para todos quantos quisessem ver. Certamente ela não sabia do vídeo sórdido que circulava a seu respeito. Outro exemplo foi uma reunião para mulheres de uma igreja local. Uma irmã as aconselhava sobre vestimentas femininas segundo a perspectiva cristã. Tal irmã fora tremendamente exposta a todos os internautas apenas pelo mau uso do vernáculo. Ou seja, de uma reunião local o público evangélico nacional passou a discutir um assunto que nada lembra a agenda apologética.     
Esses exemplos denotam a tragicidade que pode abarcar o humor cristão. Pois é semelhante ao caminho que o secular percorreu até chegar à sua atual degradação ― o caso mais clássico de repercussão nacional é o do ex-apresentador do CQC Rafael Bastos e a cantora, na época grávida, Vanessa Camargo.
       Jamais foi minha intenção, e não o é, usar este espaço para impor qualquer comportamento midiático. Até porque, além de ser antidemocrático, o fenômeno do humor cristão é passível de uma análise técnica mais pormenorizada. No entanto, o rumo que ele vem tomando pode ser passível de crítica.
       Não há dúvida que devemos denunciar o falso evangelho, o tirano sistema religioso e a negociata com o Palavra de Deus! Jesus fez isso quando necessário, os apóstolos o fizeram e, quando ameaçados, não se curvaram ao falso sistema religioso. Mas acima de tudo, eles temiam o Senhor e amavam pessoas. Era possível achar em suas palavras amor, ternura e sinceridade. Logo, o limite do humor cristão em qualquer espaço virtual ou social não pode ser outro, além desse: temer ao Senhor e respeitar o próximo. Se caminharmos no conselho de Cristo, temeremos o Senhor e erraremos menos; respeitaremos as pessoas e as decepcionaremos menos.
Nele, que não amou o homem ideal, mas o real; e que não ama a igreja idealizada, mas a existencializada. Paz e Bem!   

M.O.O.
Rio de Janeiro - RJ.