Eu quero abrir o coração e chorar sem ter
a minha espiritualidade questionada. Embora muitas vezes o choro possa
significar tristeza; ele não é sinônimo de fraqueza, mas de humanidade. Choro
porque sou humano. Choro porque sou "mundano" ― mundano, pois habito
esse mundo.
Chorar é o extravasar da alma, pois esta
não se contém diante das cascatas de sentimentos que desabrocham diante do
sofrimento humano. Este invade o seu âmago. Ignorá-lo é anticristão, é
antievangelho, é anti-humano! A miserabilidade humana deve refletir o quanto
somos miseráveis. Uns ganham em cima dela. Outros perdem a sua vida por ela.
Mas outros, simplesmente, são indiferentes a ela. Ser indiferente ao sofrimento
do outro é estar em trevas. É estar em escuridão, é ter a alma pulsando amargura,
ingratidão, desesperança e solidão. Isto é treva!
Quando penso o quanto sou impotente diante
do sofrimento humano, angustio-me. Agonio-me pela sordidez dos políticos, pois
através de um espírito público se poderia amenizar o sofrimento alheio, uma vez
que eles, os políticos, têm o poder na mão. Aflijo-me pela ganância dos
religiosos que usam e abusam da fé alheia para construírem para si um castelo
de Narciso. Algumas vezes, odeio-me! A minha negligência apavora-me. Resigno-me
rapidamente quando compreendo a minha impotência e limites. Isto reverbera em
mim como uma bomba lançada em pleno meio-dia, no largo da Carioca, em plena
movimentação, no centro da cidade do Rio de Janeiro. O efeito é devastador!
Horrendo! Terrível! Desumano! Angustiante!
Mas quando olho para o encanto, a meiguice
e a humanidade de Jesus de Nazaré, lembro-me que são "bem-aventurados os
que choram". O meigo nazareno não titubeou; Ele chorou e, por um momento,
sentiu a dor dilacerante de uma perda humana. Jesus de Nazaré sofre junto
com a gente. Aqui, talvez, lembro-me que diante do sofrimento humano, não sou tão
impotente assim. Ajuda Senhor a minha incapacidade de sensibilizar-me com o
sofrimento do outro, como um dia Tu sensibilizou-se com o meu!