quarta-feira, 23 de março de 2016

Sobre o Manifesto Missão na Íntegra


Para mim, a teologia da Missão Integral é parte das minhas reflexões teológicas, pois foi o meu tema de monografia na faculdade, sob a orientação do Dr. Nelson Célio de Mesquita da Rocha. De modo que me sinto a vontade em falar sobre o manifesto do movimento Missão na Íntegra, assinado por Ariovaldo Ramos, Ed René Kivitz, Ricardo Bitum e outros.

A íntegra do Manifesto está aqui.

Cabe ressaltar, em primeiro lugar, que a teologia da Missão Integral remonta o Pacto de Lausanne. Um documento relatado por John Stott e aprovado pela maioria das igrejas evangélicas presente no primeiro Congresso Internacional de Evangelização Mundial em 1974, na Suiça – inclusive pelas Assembleias de Deus no Brasil, que enviou o pastor Alcebíades dos Vansconcelos e publicou o documento de Lausanne pela CPAD.

O documento reflete uma leitura simples das Escrituras em relação a prática missionária. Ora, a Igreja não pode fazer missões, ignorando o contexto social em que está inserida. Por isso, não pode haver dualidade na prática missionária, pois “o ide e pregai o Evangelho” não suplantou o “amai o próximo como a ti mesmo”. A partir de uma leitura legítima dos profetas do Antigo Testamento, dos Evangelhos e dos ensinos apostólicos foi possível estabelecer uma doutrina de orientação social para a Igreja Evangélica.  

Nesse aspecto, a TMI não tem o marxismo como referencial teórico. Para muitos teólogos, a TMI chega até ser ingênua, pois a sua leitura é simples, não sendo possível encontrar qualquer estrutura complexa de interpretação como a Teologia da Libertação. Na TMI, a inspiração das Escrituras é ratificada, o conceito de salvação e pecado é preservado. Entretanto, nada disso impede que seus proponentes deixem de ser isentos e assumam um lado da história para perder a sua capacidade profética. Foi o que fizeram Ariovaldo Ramos, Ed René Kivitz, Ricardo Bitum e outros.

O manifesto da liderança da Missão na Íntegra é vergonhoso em todas as dimensões. Ali, está presente a dissimulação da teologia. Sim, é possível dissimular na teologia e com a leitura do Evangelho. Foi isso que esse manifesto fez. É uma grande ironia: aqueles que sempre criticaram a igreja evangélica pela sua letargia, agora se mostram letárgicos e dissimulados. É incrível a perda da capacidade da isenção e da denúncia!

O movimento da Missão na Íntegra vem perdendo essa capacidade há muito, desde que um de seus maiores expoentes, Ariovaldo Ramos, por intermédio do seu projeto Visão Mundial, sentou no Palácio do Planalto e disse amém para aquele governo. O problema não foi dizer amém para o governo do PT, o problema foi dizer amém para um governo. Ariovaldo Ramos vem cometendo o mesmo erro da maioria das lideranças evangélicas brasileiras: sentando com o poder, negociando e acordando com ele. Enquanto isso, seus companheiros assistem tudo calados.

Por isso, não me surpreendo com a atitude da Missão na Íntegra. Era de se esperar. Mas duvido se ela soltaria um documento desses se o objeto das investigações fosse alguém da oposição. O nome disso é dissimulação! São os “profetas” do palácio assistindo os profetas das ruas serem achincalhados. Vergonha!