sexta-feira, 14 de dezembro de 2012

SALMO 126: "Muda Senhor a nossa sorte"




No Salmo 126 está escrito:

1Quando o Senhor trouxe os cativos de volta a Sião, foi como um sonho. 2Então a nossa boca encheu-se de riso, e a nossa língua de cantos de alegria. Até nas outras nações se dizia: “O Senhor fez coisas grandiosas por este povo”. 3Sim, coisas grandiosas fez o Senhor por nós, por isso estamos alegres. 4Senhor, restaura-nos, assim como enches o leito dos ribeiros no deserto. 5Aqueles que semeiam com lágrimas, com cantos de alegria colherão. 6Aquele que sai chorando enquanto lança a semente, voltará com cantos de alegria, trazendo os seus feixes (Nova Versão Internacional - NVI).

Este salmo é denominado de Cântico dos Degraus ou Cântico das subidas ou, ainda, Cântico de Peregrinação. É uma oração coletiva em forma de louvor e súplica retratando o agradecimento a Deus pela libertação do exílio. Numa circustância de aflição e dificuldades o povo judeu relembra a grande libertação de Deus que se tornou num anúncio proclamatório para as nações vizinhas. Pois todas diziam “O Senhor fez coisas grandiosas por este povo”.
Exultação, sonho, milagre, alegria e letargia são expressões que descrevem o ato de libertação de um jugo opressor e injusto. Aconteceu assim em nossas vidas. Lembra da conversão ao Senhor? Que alegria inundada à alma. Coração cheio da graça de Deus. Desejo imenso de declarar em alto e bom som a “cachoeira de rios de águas vivas” brotando do nosso interior. Apesar de não ser identificável a precisão deste fenômeno, aqueles ao nosso redor falavam: “Coisas grandes têm feito o Senhor por Ele”. E imediatamente não titubeávamos em responder: “De fato, e de direito, grandes coisas fez o Senhor por mim e por isso estou alegre”.
O encontro com o meigo nazareno nos faz como crianças. Tamanha a ternura, a inocência, o encantamento, a simplicidade de estar em Jesus e Jesus em nós. No encontro com o nazareno, tamanhos desencontros são desfeitos e a verdade que há no coração passa a ser verdade sublime, pessoal e intransferível a partir do encontro feito com Jesus. Pois cada um, em Jesus, e só por Jesus, encontrou a sua verdade. Na verdade, se encontrou em Jesus. Pois a verdade somente é Jesus (Jo 1.1). É uma verdadeira metanoia ― transformação; mudança de mentalidade ― que aflorou a nossa mente e coração.
O povo judeu estava assim, abobado, inocente, alegre e feliz. Pois acabara de ser liberto de uma opressão que durava há anos de história. Era a história pessoal de cada pessoinha que ali estava. Só pelo rompimento psicológico e de espírito os indivíduos israelitas estavam extasiados pela libertação provida por Deus através do seu servo, Ciro, o rei persa — profetizado por séculos atrás pela boca do profeta Isaías. Mas este teor libertador de encantamento e a exultação frente a realidade da vida nua e crua da peregrinação israelita chocou o povo; por alguns instantes a fé da nação arrefeceu, pondo-a em estado de súplica. Por isso encontramos ali, no versículo 4, uma mudança brusca de ação. Outrora assombrados com a libertação, encantados com a exultação no Senhor; agora, os israelitas verberam e suplicam bruscamente:

“Senhor, restaura-nos, assim como enches o leito dos ribeiros no deserto — Que Javé mude a nossa sorte, como as torrentes do Neguebe (Bíblia Edição Pastoral)”

De uma alegria ímpar, com preocupação, o povo judeu passa a suplicar uma mudança de sorte desoladora. Que sorte é esta? — Poderíamos nos perguntar. Se formos libertos, que sorte precisa ser alterada? Se passamos pela metanoia, o que pode nos afligir?
A verdade é que ser liberto não significa apenas experimentar um outro estado psicológico ou espiritual. Mas constitui de viver um nova realidade existencial profunda. No caminho da restauração da cidade de Jerusalém, aquele povo reencontraria as suas tragédias e desolações passadas. O templo em escombros, Jerusalém demolida. Pessoas doentes, miseráveis e com sonhos perdidos. Esta era a verdade da existência daquele povo. Mas, qual é a sua verdade? Qual é a sua existencialidade?
Você olhar para a verdade do seu coração. Pense agora: Tanto tempo de igreja, grupo religioso e ativismos, mas a pergunta que não quer calar é: “como estar o meu coração”? A verdade é que o tempo passa, as circunstâncias da vida arrefecem a ternura, a simplicidade e a inocência do início. Não digo que você deve voltar lá, ao início, porque a jornada da vida é sempre para frente. Mas sem dúvida, podemos fazer uma seleção daquilo que é verdade em nós. Mesmo que esse encontro signifique chocar- se com o passado e suas melancolias, enfrentando as frustrações para encarar as desesperanças. Porque diante de tudo isso e debaixo de todos os escombros há uma promessa atemporal:

5Aqueles que semeiam com lágrimas, com cantos de alegria colherão.

Enfrentar a realidade da vida pode até arrancar lágrimas dos olhos. Mesmo assim vou plantando uma nova existência, cavando e escavando para acomodar uma nova semente que visa nascer para a vida. Pois no final do processo não terei dúvida:

6Aquele que sai chorando enquanto lança a semente, voltará com cantos de alegria, trazendo os seus feixes.

A minha existência e vivência trarão no bojo os feixes cheios. Cheios de significados para a vida. A vida em Deus. É o paralelismo entre “aquele que planta chorando” e “colhe com alegria”. Então a súplica dos degraus fará sentido para mim: “restaura Senhor, a nossa sorte como as correntes do Neguebe”. “Senhor, como Tu fizeste uma vez no ano, após uma torrente de água, aquele lugar de sequidão dar vida um belo jardim florido. Flores belas, clima arborizado e cheiro de esperança nutrirão a nossa alma e far-nos-ão subir para a vida em Deus. E no final do processo, “uma fonte de água” jorrará, dentro de nós, para vida. Seja ela eterna ou temporal; muda, ó Senhor, a nossa sorte!”


 

M.O.O.
Rio de Janeiro, RJ.