segunda-feira, 28 de abril de 2014

QUAL O LIMITE DO HUMOR CRISTÃO: UMA CRÍTICA AO SITE GENIZAH VIRTUAL

Quero esclarecer em primeiro lugar o meu pleno compromisso com a liberdade de expressão. Acredito que o desenvolvimento de qualquer país, inclusive o da igreja local, passa pelo fortalecimento de suas instituições democráticas ― os poderes Legislativo, Executivo e Judiciário. E, indubitavelmente, pela livre expressão de pensamento via a disponibilidade dos diversos meios de comunicação; quer o pensamento de caráter religioso quer o filosófico.  
Um fenômeno relativamente recente no espaço virtual evangélico é o Humor Cristão. Protagonizado por “blogs” e “sites” ditos “apologéticos” ― uso o termo “apologéticos” entre aspas para afirmar, categoricamente, que nesses espaços o que se faz não é um exercício apologético, mas o polêmico. Todavia, não é esta a hora apropriada de adentrar na querela.
Antes promovido nos arraiais ditos seculares, o humor é um gênero artístico que foi (e é) muitas vezes usado para criticar a ditadura, a corrupção, a censura, etc. na esfera da coisa pública. A modalidade artística do humor ganhou ares no sagrado. Agora denominado cristão, ele é uma realidade presente no espaço virtual evangélico e até mesmo em alguns segmentos eclesiásticos sociais. Estes últimos, o exercem na informalidade, tendo como principal objetivo o entretenimento. Portanto, não há nenhum compromisso em discutir conteúdos da fé cristã.
O site evangélico GenizahVirtual, dito “apologético”, talvez seja a maior expressão desta categoria artística no meio evangélico virtual. Ele desenvolve uma abordagem satírica sobre personalidades supostamente ameaçadoras à reta doutrina cristã do meio evangélico brasileiro. O objetivo dessa manifestação virtual é o de responder “apologeticamente” os desvios éticos e as insanidades idealizadas em nome da fé dentro do movimento evangélico brasileiro. Logo, a respeito destas insanas idealizações, são passíveis de críticas o pentecostalismo clássico e o neopentecostalismo. É bem verdade que o Genizah Virtual procura desassociar o pentecostalismo clássico do neopentecostalismo. A teoria das três ondas do Pentecostalismo, em Paul Freston, está sutilmente presente nas publicações do site.
O site do Genizah desnuda as práticas perniciosas ao Evangelho, usando da instrumentalidade inteligente, leve e sarcástica da sátira. Seus alvos: práticas antibíblicas desenvolvidas por alguns setores da igreja evangélica, tais como, por exemplo, a famigerada “Teologia da Prosperidade”, o “Movimento da Confissão Positiva” e os “Ministros da Palavra” que exploram o povo de Deus ― estes últimos conhecidos pelos programas evangélicos nas manhãs de sábado.
            É importante ressaltar que, como tudo na vida, esta nova modalidade de expressão evangélica tem de haver limites bem demarcados. Do contrário, ela corre o risco de se tornar um emaranhado de piadas de mau gosto e em exposição desnecessária de pessoas.  
    Então, qual é o limite do humor praticado no site do Genizah Virtual? O que deve regê-lo? Não há dúvida que são os princípios eternos do Evangelho. Nestes, encontramos conselhos contemporâneos para lidarmos sabiamente com o assunto ora exposto.
Analise comigo estas duas porções bíblicas: “Amarás, pois, ao Senhor, teu Deus, de todo o teu coração, e de toda a tua alma, e de todo o teu entendimento, e de todas as tuas forças; este é o primeiro mandamento. E o segundo, semelhante a este, é: Amarás o teu próximo como a ti mesmo. Não há outro mandamento maior do que estes” (Mc 12.30,21). Esses dois mandamentos denotam duas observâncias elementares para tecermos quaisquer comentários contra ou a favor de alguém; ou para posicionar-se a respeito de qualquer assunto cujo alvo seja pessoas: a primeira é o temor ao Senhor; e a segunda, o respeito pelo próximo.
Quando comenta sobre o “desdenhador dos Seres Humanos”, em sua obra Ética, o teólogo alemão Dietrich Bonhoeffer escreve: “Deus ama o ser humano. Deus ama o mundo. Não um ser humano ideal, mas o ser humano como ele é, não um mundo ideal, mas o mundo real”. Complementando esse pensamento, Bonhoeffer ainda afirma: “Enquanto nós distinguimos entre piedosos e ímpios, bons e maus, nobres e ordinários, Deus ama o ser humano real sem distinção”. O teólogo alemão tem razão quando nos lembra que o ser humano idealizado por nós nem sempre é o real. Que a igreja idealizada em nossas mentes nem sempre é a existencial. No entanto, ambos, ser humano e igreja, quando idealizados, mas não compreendidos na realidade existencial, não deixam de ser o que são: obras criadas diretamente por Deus, segundo o conselho de sua sabedoria. E, portanto, objetos do seu imenso e sublime amor.
Aqui, evoco os princípios de Marcos 12.30,31 para mostrar o risco de, ignorando tais observações, se cometer precipitações, exposições desnecessárias e injustiças com pessoas. Um site cristão não pode cometer os mesmos erros da mídia secular.  
Sobre o Genizah, passo a exemplificar dois casos que demonstram o caminho tórrido que o site trilhou com naturalidade. Lembro-me duma matéria veiculada anos atrás, era a exposição de uma irmã em estado de êxtase (não julgo aqui a legitimidade da experiência). Ela foi colocada como escárnio nacional para todos quantos quisessem ver. Certamente ela não sabia do vídeo sórdido que circulava a seu respeito em todo o território nacional.  
Outro exemplo foi uma reunião para mulheres da IgrejaBatista da Lagoinha. Uma irmã aconselhava as mulheres de sua igreja sobre vestimentas femininas segundo a perspectiva cristã. Tal irmã fora tremendamente exposta a todos os internautas apenas pelo mau uso do vernáculo. Ou seja, de uma reunião local o público evangélico nacional passou a discutir um assunto que nada lembra uma “agenda apologética”.     
Esses dois exemplos denotam a tragicidade que pode abarcar o humor cristão praticado pelo site Genizah Virtual. É semelhante ao caminho que o secular percorreu até chegar à sua atual degradação ― o caso mais clássico de repercussão nacional é do ex-apresentador do CQC Rafael Bastos e a cantora, na época grávida, Vanessa Camargo.
       Não é a minha intensão usar este espaço para impor qualquer comportamento midiático. Até porque, quem sou eu? E, além de ser uma atitude antidemocrática, o fenômeno do humor cristão é um objeto passível de pesquisa científica da área do marketing, das letras, etc. Entretanto, o rumo que ele vem tomando é sim passível de crítica. E por isso redijo uma neste espaço de poucos leitores.
       Não há dúvida de que devemos denunciar o falso evangelho, o tirano sistema religioso e a negociata com a Palavra de Deus! Jesus fez isso quando necessário, os apóstolos o fizeram e, quando ameaçados, não se curvaram ao falso sistema religioso.
Todavia, havia temor e amor na vida dos apóstolos. É possível achar em suas palavras perspectivas de amor, ternura e sinceridade. Logo, o limite do humor cristão em qualquer espaço virtual ou social, e neste caso o do Genizah Virtual, não pode ser outro além desse: temer ao Senhor e respeitar o próximo. Se caminharmos no conselho de Cristo, temeremos o Senhor e erraremos menos; respeitaremos as pessoas e as decepcionaremos menos.
Jesus não amou o homem ideal, mas o real; Ele não ama uma igreja idealizada, mas existencializada. Jesus é amor, ternura e sinceridade!

Paz e Bem!   

Marcelo de Oliveira e Oliveira
Rio de Janeiro, RJ.