sábado, 11 de janeiro de 2014

Sobre a lista de Senadores divulgada pelo pastor Silas Malafaia a respeito do apensamento do PLC 122

Como cristão quero deixar claro que sou contra o aborto e o homossexualismo (mas respeito profundamente a pessoa sob a condição da homossexualidade), assim como também contra a corrupção, a manipulação eleitoral, a mentira, a ambição e a ganância do poder temporal. Igualmente, pecados contra o Criador e o Próximo.  

Há muito, converso com os mais próximos sobre o erro de elegermos um assunto como se fosse o mais importante de uma nação em tempos eleitorais. O Brasil, país de extensão continental e de estrutura política e econômica complexa, não pode ser discutido sob apenas um prisma ideológico. Mas algumas lideranças religiosas insistem priorizar o tema já nocauteado, o PLC 122. A partir de então, julgam-se no direito de determinar o voto evangélico apenas olhando a realidade sob o prisma do "valor moral evangélico" atual. Mas não entendo um valor que não tem o pudor de colocar a presidenta da república contra a parede, dando-lhe um xeque-mate: ou você suspende o Kit Gay das escolas ou votaremos a favor da CPI do Palocci - este foi o comportamento da Bancada Evangélica (veja aqui e aqui). Então, o homossexualismo é pecado, mas a corrupção não?

Em seu último programa, o pastor Silas Malafaia divulgou a lista dos senadores que votaram a favor e contra ao apensamento do PLC 122 ao projeto de reforma do novo código penal - PLS 236/2012 (para acessar a lista completa clique aqui). Mas devemos ressaltar que não se pode dizer que quem votou a "favor" ou "contra" ao apensamento, é de fato, a favor ou contra ao PLC 122. A proposta do apensamento é discutir o conceito de homofobia nessa reforma do código penal. Ou seja, quem conhece o cotidiano de uma discussão de projeto de lei no Congresso Nacional sabe que a verdadeira "guerra" sobre o tema ainda está por vir. O lobby naquela casa de leis é intenso e estressante. Não é para amadores.

O que me espanta é o tom eleitoral do senhor Silas Malafaia que adianta em aproximadamente 1 ano as eleições nacionais e estaduais. Sua aproximação com o Senador Lindberg Farias do PT do Rio de Janeiro demonstra a intenção de apoiá-lo na sucessão estadual - sabe-se que ele é brigado com ex-governador Anthony Garotinho desde a eleição de 2010, apoiar o vice-governador Pezão não convém, pois ele patina nas pesquisas e o Marcelo Crivela, muito menos, é sobrinho do Edir Macedo. Isto explica o destaque dado ao senador Lindberg no programa deste sábado.

Mais espantoso ainda é rotular figuras como as de Pedro Simon (PMDB/RS), Paulo Paim (PT/RS) e outros que têm uma história ilibada de serviço público prestado e, classificá-las, como pessoas não merecedoras do voto evangélico por causa das informações incompletas passadas por um programa de televisão. Comparar Pedro Simon com o ex-ministro do Transporte Alfredo Nascimento do PR/AM denunciado nacionalmente por corrupção em sua pasta, e posteriormente defenestrado pelo governo Dilma, é de uma injustiça despudorada. Isto aplica-se ao Eduardo Suplicy e a outros - aguarde o pronunciamento do bom de briga, o senador Roberto Requião (PMDB/PR), ex-governador do Paraná.

Falo com clareza: se eu votasse no estado do Rio Grande do Sul os meus candidatos ao senado federal seriam Pedro Simon e Paulo Paim. Votaria neles sem pestanejar.

Portanto, o que não pode acontecer é mais uma vez transformar essa sucessão eleitoral em moralismo. O Brasil tem temas mais urgentes e importantes para debater nos confrontos dos presidenciáveis e nas casas de leis. 

Sou evangélico e contra o PLC 122, mas discordo dessa prática político-eclesiástica que tem mais cheiro de poder político que preocupação com a família. Outrossim, esta prática tem trazido graves problemas para quem ainda evangeliza o público gay. 

Mais uma vez, nesse ano, veremos políticos invadindo as igrejas e as nossas reuniões ministeriais com o mesmo discurso. A cada ano tem de se eleger um novo inimigo. O desse ano: quem votou ou não contra o apensamento do PLC 122. Pense por si. Veja se essa prática política tem coerência com o Evangelho. Eu penso que não.

Paz e Bem! 

M.O.O.
Rio de Janeiro - RJ.