Chegou a Copa do Mundo! O evento
mais esperado do planeta.
Fora das quatro linhas não
preciso comentar porque as manifestações de Junho do ano passado falaram por si.
Muito roubo. Muita corrupção. Muito engano. Enfim, o Brasil prometeu um padrão
FIFA quando a própria FIFA nem padrão tem. Isto é, o político brasileiro e a
cúpula da FIFA: casamento que deu certo. Por conseguinte, deixa-me explicar o
que esta copa significa para mim hoje dentro das quatro linhas e,
consequentemente, fora também.
Em 1990 sem entender muito bem o
significado de uma Copa do Mundo assisti o Caniggia fazer um gol da meia lua
contra o goleiro Taffarel. O atacante argentino silenciou o estádio Delle Alpi,
em Turim, como calou a minha vizinhança em Pavuna. Assim, o Brasil foi eliminado
da Copa da Itália. Para esta copa, colecionei figurinhas para o álbum, mas não as
completei. Aliás, nunca consegui concluir um álbum da Copa do Mundo. Que
lástima!
Também o ano de 90 marcou uma
nova etapa para o Brasil nação. Fernando Collor de Mello assumiu a presidência
da república: o primeiro presidente, desde 1960, eleito por eleições diretas.
Dois anos mais tarde o presidente sofreu o impeachment.
Logo depois, renunciou o mandato.
Em 1994, no mundial dos Estados
Unidos, vi o Brasil campeão após vinte e quatro anos de Jejum de títulos. Assisti
também o Galvão gritando desesperado agarrado ao Pelé e ao Arnaldo Cezar Coelho:
É tetra! É tetra! É tetra... A raça do Dunga, o eterno capitão da minha
geração. Que meio campo aquele de 94! Dunga, Mazinho, Raí e Mauro Silva. O
Dunga cerrando o punho na cobrança de pênalti e Baggio isolando a bola são
cenas gravadas em minha mente que nunca mais se esvaem. Do mesmo modo o ano de
94 marcava o início do período político de Fernando Henrique Cardoso, o FHC, e o
da estabilidade econômica brasileira com o sucesso do plano real. Agora o
brasileiro podia se planejar economicamente.
A vergonhosa final de 1998, para
muitos uma negociação entre a Nike, a FIFA, a CBF e a organização francesa, tirou-me
um pouco do prazer de assistir uma copa do mundo. Aquele mundial foi na França.
A partir dali, não vibraria mais como sempre vibrei com a seleção nas duas
últimas copas que eu assistira. Quem assistiu todo o mundial e viu a final e a forma
como a seleção jogou só podia pensar em roubo. Ela estava simplesmente
irreconhecível! Por outro lado em 98, no Brasil, FHC implantou a reeleição cuja
base do
governo, no Congresso Nacional, comprara votos para o presidente ser reeleito.
Não podemos esquecer as privatizações bem sucedidas, mas igualmente as muitas
denúncias de esquemas fraudulentos.
A seleção brasileira é campeã do mundo sob
a liderança de Luiz Felipe Scolari, o Felipão, no ano de 2002, na copa sediada
no Japão e na Coreia do Sul. Foi a primeira vez que dois países sediaram a
mesma copa. São Marcos brilhou; o eterno goleiro do Palmeiras. Romário, o herói
de 94, barrado no baile. Mas o centroavante Ronaldo não apenas brilhou,
tornou-se o Fenômeno. Arrancadas como as dele é difícil repetir-se. Deixava todos
sem fôlego. E o menino Denílson! Os turcos até hoje o estão procurando naquela
maré vermelha. Do mesmo modo, o segundo gol contra o melhor goleiro do mundo
daquela copa, o alemão Oliver Kahn, foi de extasiar o apaixonado por futebol.
Ronaldo armou a jogada e
estufou a rede do goleiro alemão dando ao
Brasil o pentacampeonato e o posto de o único país cinco vezes campeão do mundo
no futebol.
Em 2002, Luiz Inácio Lula da Silva é
eleito para presidente da república. Pela primeira vez o Brasil tem o governo onde
um trabalhador, oriundo do nordeste, mas com a
vida política e econômica estabelecida em São Paulo, subiu a rampa do Planalto
como presidente. Foi um governo que distribuiu renda. Ações sociais no campo de
acesso as universidades e as bolsas para quem precisavam foram marcas do
primeiro mandato de Lula. Sua equipe econômica não mexeu no fundamento da
Economia desenvolvido na era FHC. Mas no ano de 2005 vieram a tona as entranhas
podres do Estado, do Congresso e do Judiciário. O partido que erguia a bandeira
da ética passaria à história como o maior dos corruptos da política recente
brasileira. A grande obra: O Mensalão.
As copas de 2006 e 2010 o Brasil foi eliminado.
Ambas foram sediadas respectivamente na Alemanha e na África do Sul.
Concomitantemente, o Lula foi reeleito em 2006 e a Dilma, sua pupila política, eleita
em 2010. Foi a primeira mulher a presidir o Brasil na história política.
Estamos em 2014! A copa é aqui, no Brasil. Não levo
muita fé na seleção de hoje porque, confesso, há tempo não estou ligado em
futebol e copa do mundo. Tenho tido outras prioridades. Mas se o repórter
esportivo, Jorge Kajuru, estiver certo o Brasil será campeão. Pois o Ricardo
Teixeira acertou com o pessoal da FIFA. Segundo o Kajuru, a seleção perdia a
copa na África do Sul e ganharia aqui. Coisas do futebol!
Apesar de tudo eu vou torcer pela seleção. Não sei
quem é o meio campo da “canarinho”, exceto o Neymar, o Fred e o goleiro
Jefferson do meu sofrido Botafogo. Entretanto, a minha torcida está mais para
fora de campo que para dentro dele. Imagine o caos se a seleção for eliminada
nas oitavas ou nas quartas de final? No Brasil se arruma “bode expiatório” para
tudo. Para os ânimos acirrarem-se não custa. Os movimentos em marcha hoje em
nosso país não lembram em nada a espontaneidade das manifestações de Junho do
ano passado. As greves são políticas, grupais e segmentadas. Elas não
representam o anseio da população, apesar da maioria ser legítima.
Dentro das quatro linhas vou torcer pelo Brasil.
Espero ver uma bela final entre a seleção brasileira e a de Portugal. E Neymar
e Cristiano Ronaldo duelando.
Mas torço mesmo pelo Brasil fora do campo. O Brasil
dos meus pais, o Brasil da minha família, o Brasil dos meus amigos e amigas, o
Brasil dos trabalhadores. O Brasil do Brasil. Torço pelo Brasil das
consciências cidadãs. Que elas entendam que não é hora de protestar, quebrar ou
fazer coisa parecida. À hora é em Outubro. Lá o Brasil precisa ganhar a sua
Copa.
Quero ver o resultado das manifestações de Junho nas
eleições de Outubro. Removendo toda a situação e colocando no governo quem hoje
é oposição. O Brasil decidindo pela alternância do poder: elemento fundamental
para qualquer democracia. A classe política que governa hoje precisa ouvir um
sonoro e eletrônico não!
A Copa enfim chegou...
M.O.O.
Rio de Janeiro – RJ.