quinta-feira, 12 de junho de 2014

Enfim, a Copa chegou...



Chegou a Copa do Mundo! O evento mais esperado do planeta.
Fora das quatro linhas não preciso comentar porque as manifestações de Junho do ano passado falaram por si. Muito roubo. Muita corrupção. Muito engano. Enfim, o Brasil prometeu um padrão FIFA quando a própria FIFA nem padrão tem. Isto é, o político brasileiro e a cúpula da FIFA: casamento que deu certo. Por conseguinte, deixa-me explicar o que esta copa significa para mim hoje dentro das quatro linhas e, consequentemente, fora também.
Em 1990 sem entender muito bem o significado de uma Copa do Mundo assisti o Caniggia fazer um gol da meia lua contra o goleiro Taffarel. O atacante argentino silenciou o estádio Delle Alpi, em Turim, como calou a minha vizinhança em Pavuna. Assim, o Brasil foi eliminado da Copa da Itália. Para esta copa, colecionei figurinhas para o álbum, mas não as completei. Aliás, nunca consegui concluir um álbum da Copa do Mundo. Que lástima!
Também o ano de 90 marcou uma nova etapa para o Brasil nação. Fernando Collor de Mello assumiu a presidência da república: o primeiro presidente, desde 1960, eleito por eleições diretas. Dois anos mais tarde o presidente sofreu o impeachment. Logo depois, renunciou o mandato. 
Em 1994, no mundial dos Estados Unidos, vi o Brasil campeão após vinte e quatro anos de Jejum de títulos. Assisti também o Galvão gritando desesperado agarrado ao Pelé e ao Arnaldo Cezar Coelho: É tetra! É tetra! É tetra... A raça do Dunga, o eterno capitão da minha geração. Que meio campo aquele de 94! Dunga, Mazinho, Raí e Mauro Silva. O Dunga cerrando o punho na cobrança de pênalti e Baggio isolando a bola são cenas gravadas em minha mente que nunca mais se esvaem. Do mesmo modo o ano de 94 marcava o início do período político de Fernando Henrique Cardoso, o FHC, e o da estabilidade econômica brasileira com o sucesso do plano real. Agora o brasileiro podia se planejar economicamente.
A vergonhosa final de 1998, para muitos uma negociação entre a Nike, a FIFA, a CBF e a organização francesa, tirou-me um pouco do prazer de assistir uma copa do mundo. Aquele mundial foi na França. A partir dali, não vibraria mais como sempre vibrei com a seleção nas duas últimas copas que eu assistira. Quem assistiu todo o mundial e viu a final e a forma como a seleção jogou só podia pensar em roubo. Ela estava simplesmente irreconhecível! Por outro lado em 98, no Brasil, FHC implantou a reeleição cuja base do governo, no Congresso Nacional, comprara votos para o presidente ser reeleito. Não podemos esquecer as privatizações bem sucedidas, mas igualmente as muitas denúncias de esquemas fraudulentos.
A seleção brasileira é campeã do mundo sob a liderança de Luiz Felipe Scolari, o Felipão, no ano de 2002, na copa sediada no Japão e na Coreia do Sul. Foi a primeira vez que dois países sediaram a mesma copa. São Marcos brilhou; o eterno goleiro do Palmeiras. Romário, o herói de 94, barrado no baile. Mas o centroavante Ronaldo não apenas brilhou, tornou-se o Fenômeno. Arrancadas como as dele é difícil repetir-se. Deixava todos sem fôlego. E o menino Denílson! Os turcos até hoje o estão procurando naquela maré vermelha. Do mesmo modo, o segundo gol contra o melhor goleiro do mundo daquela copa, o alemão Oliver Kahn, foi de extasiar o apaixonado por futebol. Ronaldo armou a jogada e estufou a rede do goleiro alemão dando ao Brasil o pentacampeonato e o posto de o único país cinco vezes campeão do mundo no futebol.
Em 2002, Luiz Inácio Lula da Silva é eleito para presidente da república. Pela primeira vez o Brasil tem o governo onde um trabalhador, oriundo do nordeste, mas com a vida política e econômica estabelecida em São Paulo, subiu a rampa do Planalto como presidente. Foi um governo que distribuiu renda. Ações sociais no campo de acesso as universidades e as bolsas para quem precisavam foram marcas do primeiro mandato de Lula. Sua equipe econômica não mexeu no fundamento da Economia desenvolvido na era FHC. Mas no ano de 2005 vieram a tona as entranhas podres do Estado, do Congresso e do Judiciário. O partido que erguia a bandeira da ética passaria à história como o maior dos corruptos da política recente brasileira. A grande obra: O Mensalão.
As copas de 2006 e 2010 o Brasil foi eliminado. Ambas foram sediadas respectivamente na Alemanha e na África do Sul. Concomitantemente, o Lula foi reeleito em 2006 e a Dilma, sua pupila política, eleita em 2010. Foi a primeira mulher a presidir o Brasil na história política.
Estamos em 2014! A copa é aqui, no Brasil. Não levo muita fé na seleção de hoje porque, confesso, há tempo não estou ligado em futebol e copa do mundo. Tenho tido outras prioridades. Mas se o repórter esportivo, Jorge Kajuru, estiver certo o Brasil será campeão. Pois o Ricardo Teixeira acertou com o pessoal da FIFA. Segundo o Kajuru, a seleção perdia a copa na África do Sul e ganharia aqui. Coisas do futebol!
Apesar de tudo eu vou torcer pela seleção. Não sei quem é o meio campo da “canarinho”, exceto o Neymar, o Fred e o goleiro Jefferson do meu sofrido Botafogo. Entretanto, a minha torcida está mais para fora de campo que para dentro dele. Imagine o caos se a seleção for eliminada nas oitavas ou nas quartas de final? No Brasil se arruma “bode expiatório” para tudo. Para os ânimos acirrarem-se não custa. Os movimentos em marcha hoje em nosso país não lembram em nada a espontaneidade das manifestações de Junho do ano passado. As greves são políticas, grupais e segmentadas. Elas não representam o anseio da população, apesar da maioria ser legítima.
Dentro das quatro linhas vou torcer pelo Brasil. Espero ver uma bela final entre a seleção brasileira e a de Portugal. E Neymar e Cristiano Ronaldo duelando.
Mas torço mesmo pelo Brasil fora do campo. O Brasil dos meus pais, o Brasil da minha família, o Brasil dos meus amigos e amigas, o Brasil dos trabalhadores. O Brasil do Brasil. Torço pelo Brasil das consciências cidadãs. Que elas entendam que não é hora de protestar, quebrar ou fazer coisa parecida. À hora é em Outubro. Lá o Brasil precisa ganhar a sua Copa.
Quero ver o resultado das manifestações de Junho nas eleições de Outubro. Removendo toda a situação e colocando no governo quem hoje é oposição. O Brasil decidindo pela alternância do poder: elemento fundamental para qualquer democracia. A classe política que governa hoje precisa ouvir um sonoro e eletrônico não!
A Copa enfim chegou...

M.O.O.
Rio de Janeiro – RJ.