quarta-feira, 10 de junho de 2015

Há algo podre nessa história: os dois lados da "blasfêmia da cruz"


Marcelo Oliveira de Oliveira

Os ânimos estão exacerbados no Brasil. Duas classes, dois movimentos e duas sociedades: assim querem dividir a nação brasileira. É a briga do “nós contra eles”. É o encontro de duas mentalidades extremistas e de interesses meramente particulares: o de classe e o de algumas instituições religiosas.
O “sacrilégio da cruz” ocorrido no último final de semana da Parada Gay gerou “gasolina” e “querozene” para os movimentos LGBT e de algumas lideranças evangélicas. Embora haja razões legítimas de uma parcela religiosa criticar o ato ignóbil praticado pelo movimento gay, é importante destacarmos que nessa história há algo de podre nos dois lados. Vejamos.
O movimento LGBT quer impor uma agenda de gênero à sociedade brasileira. Dizendo que tais identidades de gênero, isto é, a ideia de masculinidade e feminilidade, é uma construção cultural e histórica da sociedade, não tendo, portanto, as famílias o direito de conservar alguns valores morais que elas entendem por absolutos, quer por motivo religioso quer motivo ético.
Nada mais falso e desonesto!
Os gêneros masculinos e femininos são uma condição humana, uma determinação biológica e natural em que a sociedade que se encontra em torno desse indivíduo humano o reconhece como portador dessa condição natural e biológica. Não podendo, por isso, alterar a potencialidade condicionante desses gêneros nos seres humanos. As exceções (transexuais, hemafroditas etc.) não desconstroem essa condição humana natural. Embora o conceito de gênero seja uma construção humana, convencionada pelos povos para reconhecerem o fenômeno biológico e natural, neste caso, a convenção dos povos é certeira e precisa: masculino e feminino são fenômenos naturais que constituem em grau de importância a condição humana. Por isso, é uma piada de muito mal gosto a militância gay impor uma agenda desconstrutivista das identidades de gênero nas escolas, nas repartições públicas, nas instituições religiosas, nas famílias e em quaisquer esferas da sociedade, pois negar os gêneros tradicionais reconhecidos e apontados pela sociedade é negar a própria condição humana.   
Entretanto, isso não significa que o Estado, como de direito e republicano, deva se omitir quando pessoas do mesmo sexo se unem e constroem um patrimônio, uma herança e uma série de bens. O Estado precisa regulamentar tais relações e fenômenos sociais. Não reconhecer isso é não reconhecer o direito básico de um indivíduo seja ele quem for.
O problema é que o movimento gay não se contenta apenas em garantir determinados direitos legais. Ele que ir mais além. O movimento deseja mudar a cabeça dos cidadãos, suas mentes e corações, à força. O ódio é a base do movimento, pois sua ideologia está fundamentada nas lutas de classe, do confronto social entre “oprimido e opressor”. Neste caso, o oprimido é o movimento gay e o opressor é a sociedade brasileira.  
Por outro lado, temos um movimento evangélico em que alguns líderes religiosos aprenderam o caminho da eleição fácil. Em nome de uma agenda moralista, virou moda alguns pastores brasileiros elegerem vereadores, deputados e até senadores que os representam. Note bem: tais políticos representam uma instituição religiosa, uma agremiação evangélica e não a totalidade dos evangélicos que os elegeram, nem muito menos a sociedade brasileira.
Além disso, nas ditas “Marcha para Jesus”, sabemos que há dinheiro público envolvido nisso e, que no final das contas, o administrador público pedirá conta dessa “contribuição” no ano da eleição. Não é a toa que, aqui, no Rio de Janeiro, vimos uma incoerência marcante nas últimas eleições. O mesmo líder e tele-evangelista que vocifera contra o movimento gay apoiar o candidato do governo que mais contribuiu para a agenda gay nesse Estado.
Os líderes do Movimento Evangélico no Brasil precisam entender que a sociedade brasileira vem amadurecendo educacional e politicamente. De modo que, tal sociedade sabe diagnosticar quando um discurso é vazio de prática ― não dá para vociferar contra a promiscuidade alheia quando ela está dentro de sua própria casa. Infelizmente, a sociedade brasileira não está nos reconhecendo pela prática do amor e pela pregação do Evangelho, mas pelo embate, pela briga e pelo confronto.
A blasfêmia desse final de semana é só a ponta do iceberg do que ainda está por vim se esses extremismos não pararem por aí...

Paz e Bem!