Marcelo Oliveira de Oliveira
Os
ânimos estão exacerbados no Brasil. Duas classes, dois movimentos e duas
sociedades: assim querem dividir a nação brasileira. É a briga do “nós contra
eles”. É o encontro de duas mentalidades extremistas e de interesses meramente particulares:
o de classe e o de algumas instituições religiosas.
O
“sacrilégio da cruz” ocorrido no último final de semana da Parada Gay gerou “gasolina”
e “querozene” para os movimentos LGBT e de algumas lideranças evangélicas. Embora
haja razões legítimas de uma parcela religiosa criticar o ato ignóbil praticado
pelo movimento gay, é importante destacarmos que nessa história há algo de
podre nos dois lados. Vejamos.
O
movimento LGBT quer impor uma agenda de gênero à sociedade brasileira. Dizendo
que tais identidades de gênero, isto é, a ideia de masculinidade e
feminilidade, é uma construção cultural e histórica da sociedade, não tendo,
portanto, as famílias o direito de conservar alguns valores morais que elas
entendem por absolutos, quer por motivo religioso quer motivo ético.
Nada
mais falso e desonesto!
Os
gêneros masculinos e femininos são uma condição humana, uma determinação
biológica e natural em que a sociedade que se encontra em torno desse indivíduo
humano o reconhece como portador dessa condição natural e biológica. Não
podendo, por isso, alterar a potencialidade condicionante desses gêneros nos
seres humanos. As exceções (transexuais, hemafroditas etc.) não desconstroem essa
condição humana natural. Embora o conceito de gênero seja uma construção
humana, convencionada pelos povos para reconhecerem o fenômeno biológico e
natural, neste caso, a convenção dos povos é certeira e precisa: masculino e
feminino são fenômenos naturais que constituem em grau de importância a
condição humana. Por isso, é uma piada de muito mal gosto a militância gay impor
uma agenda desconstrutivista das identidades de gênero nas escolas, nas
repartições públicas, nas instituições religiosas, nas famílias e em quaisquer
esferas da sociedade, pois negar os gêneros tradicionais reconhecidos e
apontados pela sociedade é negar a própria condição humana.
Entretanto,
isso não significa que o Estado, como de direito e republicano, deva se omitir
quando pessoas do mesmo sexo se unem e constroem um patrimônio, uma herança e
uma série de bens. O Estado precisa regulamentar tais relações e fenômenos
sociais. Não reconhecer isso é não reconhecer o direito básico de um indivíduo
seja ele quem for.
O
problema é que o movimento gay não se contenta apenas em garantir determinados
direitos legais. Ele que ir mais além. O movimento deseja mudar a cabeça dos
cidadãos, suas mentes e corações, à força. O ódio é a base do movimento, pois sua
ideologia está fundamentada nas lutas de classe, do confronto social entre “oprimido
e opressor”. Neste caso, o oprimido é o movimento gay e o opressor é a
sociedade brasileira.
Por
outro lado, temos um movimento evangélico em que alguns líderes religiosos
aprenderam o caminho da eleição fácil. Em nome de uma agenda moralista, virou
moda alguns pastores brasileiros elegerem vereadores, deputados e até senadores
que os representam. Note bem: tais políticos representam uma instituição
religiosa, uma agremiação evangélica e não a totalidade dos evangélicos que os
elegeram, nem muito menos a sociedade brasileira.
Além
disso, nas ditas “Marcha para Jesus”, sabemos que há dinheiro público envolvido
nisso e, que no final das contas, o administrador público pedirá conta dessa “contribuição”
no ano da eleição. Não é a toa que, aqui, no Rio de Janeiro, vimos uma
incoerência marcante nas últimas eleições. O mesmo líder e tele-evangelista que
vocifera contra o movimento gay apoiar o candidato do governo que mais
contribuiu para a agenda gay nesse Estado.
Os
líderes do Movimento Evangélico no Brasil precisam entender que a sociedade
brasileira vem amadurecendo educacional e politicamente. De modo que, tal
sociedade sabe diagnosticar quando um discurso é vazio de prática ― não dá para
vociferar contra a promiscuidade alheia quando ela está dentro de sua própria
casa. Infelizmente, a sociedade brasileira não está nos reconhecendo pela
prática do amor e pela pregação do Evangelho, mas pelo embate, pela briga e
pelo confronto.
A
blasfêmia desse final de semana é só a ponta do iceberg do que ainda está por
vim se esses extremismos não pararem por aí...
Paz
e Bem!