sexta-feira, 20 de outubro de 2017

DÍZIMO E ADULTÉRIO


Marcelo Oliveira de Oliveira





Roubará o homem a Deus? Todavia, vós me roubais e dizeis: Em que te roubamos? Nos dízimos e nas ofertas alçadas. Com maldição sois amaldiçoados, porque me roubais a mim, vós, toda a nação. Trazei todos os dízimos à casa do tesouro, para que haja mantimento na minha casa, e depois fazei prova de mim, diz o Senhor dos Exércitos, se eu não vos abrir as janelas do céu e não derramar sobre vós uma bênção tal, que dela vos advenha a maior abastança.” (Ml 3.8-10)


O que o dízimo tem a ver com o adultério?

Para entender a palavra do profeta Malaquias acerca do dízimo é preciso remontar toda obra. O capítulo 1 do livro profético de Malaquias mostra o processo de apodrecimento moral dos sacerdotes que representavam a Deus diante do povo:

O filho honrará o pai, e o servo, ao seu senhor; e, se eu sou Pai, onde está a minha honra? E, se eu sou Senhor, onde está o meu temor? — diz o Senhor dos Exércitos a vós, ó sacerdotes, que desprezais o meu nome e dizeis: Em que desprezamos nós o teu nome? Ofereceis sobre o meu altar pão imundo e dizeis: Em que te havemos profanado? Nisto, que dizeis: A mesa do Senhor é desprezível (vv.6,7).

O estado moral deplorável dos sacerdotes de Israel foi aprofundado ao optarem por uma vida dissimulada. Os “representantes de Deus” mentiam sobre a oferta do sacrifício; no lugar de pão limpo, ofereciam o pão imundo (O que você acha que eles faziam com o pão limpo, o bom pão?). Os “representantes de Deus” levavam o animal cego no lugar do perfeito; o animal coxo, no lugar do saudável. Mas para o povo, esses sacerdotes demonstravam a oferta boa e a afirmavam perfeita: o povo acreditava que aqueles “homens santos” ofereciam uma “oferta santa” a Deus.

Os fiéis desconheciam os bastidores do Templo, não faziam ideia das conversas, dos acordos, das articulações que solapavam o bom senso e a sinceridade da alma da pessoinha mais humilde e cheia de ternura diante de Deus e dos homens. Por isso, o profeta Malaquias, para além do ponto de vista da liturgia religiosa, mas sob o ponto de vista da vida pessoal do sacerdote, denuncia:

Não temos nós todos um mesmo Pai? Não nos criou um mesmo Deus? Por que seremos desleais uns para com os outros, profanando o concerto de nossos pais? Judá foi desleal, e abominação se cometeu em Israel e em Jerusalém; porque Judá profanou a santidade do Senhor, a qual ele ama, e se casou com a filha de deus estranho (2.10,11). 


Se há uma coisa que marca o caráter dos profetas do Antigo Testamento é a de chamar a dissimulação pelo nome:
  
Porque o Senhor foi testemunha entre ti e a mulher da tua mocidade, com a qual tu foste desleal, sendo ela a tua companheira e a mulher do teu concerto. E não fez ele somente um, sobejando-lhe espírito? E por que somente um? Ele buscava uma semente de piedosos; portanto, guardai-vos em vosso espírito, e ninguém seja desleal para com a mulher da sua mocidade (Ml 2.14,15). 

          
O clamor do profeta passa longe da questão cerimonial religiosa. Não se trata de denunciar os sacerdotes por causa do status quor religioso, mas devido à natureza maligna dos atos dos “representantes de Deus”. A injustiça − de trocar a mulher da mocidade por uma mais nova, vinda de uma terra estranha, praticante de uma religião bizarra – “gritava” diante de Deus. Não respeitar a mãe de seus filhos, a mulher que o apoiou em tudo, e autoanulou-se por causa dele, para o “ungido de Deus” chegar onde estava. O sacerdote não podia premiá-la, trocando-a por apenas uma pulsão carnal e descontrole de sua volúpia manifesta mediante a ânsia de prazer e de poder. Por isso, o Senhor diz:

Porque o Senhor, Deus de Israel, diz que aborrece o repúdio e aquele que encobre a violência com a sua veste, diz o Senhor dos Exércitos; portanto, guardai-vos em vosso espírito e não sejais desleais” (Ml 2.16).

O sacerdócio judaico havia se transformado numa plataforma de poder político e econômico, onde o “representante de Deus” acreditava ter o direito de fazer todas as coisas, inclusive o absurdo de expulsar a mãe de seus filhos, a mulher da sua mocidade, da sua “vida santa”.

A máscara caiu!

Agora o povo viu!

Era pública e notória a dissimulação dos líderes religiosos de Israel, pois não mais escondiam suas prostituições. Logo com o tempo, as pessoas viram que esses sacerdotes faziam tudo isso com o “dinheiro” do povo (sim, pois o povo não dava ofertas defeituosas, elas só se mostravam assim após entrarem à dispensa do Templo). Qual era a lógica? Parar de financiar tudo isso. O povo parou de dar dízimos e ofertas.

Parar de entregar os dízimos e as ofertas, naquele contexto, era estabelecer um caos social. Ora, os sacerdotes eram da Tribo de Levi. Esta era sustentada por intermédio dos dízimos e das ofertas de todo o povo. Embora a classe sacerdotal estivesse mergulhada na dissimulação, isso não significava dizer que todos os sacerdotes estavam assim, que todos os levitas eram “crápulas”. Não, muitos não haviam se dobrado! Se o povo parasse de dar o dízimo, a Tribo de Levi estava fadada a desaparecer. Por isso, o profeta denunciava e estimulava o povo a voltar a dar o dízimo: “Trazei todos os dízimos à casa do tesouro, para que haja mantimento na minha casa” (Ml 3.10). Os sacerdotes auxiliares não poderiam pagar pela perversidade dos oficiais.

Deus não é injusto!

A crise dos dízimos e das ofertas não era uma questão somente de infidelidade do povo, mas, principalmente, de infidelidade dos sacerdotes, “os representantes de Deus”. No tempo de Jesus esse processo apenas se aprofundou, e por isso, nosso Senhor não titubeou em desmascarar a “casta santa”:

Ai de vós, escribas e fariseus, hipócritas! Pois que dais o dízimo da hortelã, do endro e do cominho e desprezais o mais importante da lei, o juízo, a misericórdia e a fé; deveis, porém, fazer essas coisas e não omitir aquelas. Condutores cegos! Coais um mosquito e engolis um camelo. Ai de vós, escribas e fariseus, hipócritas!Pois que limpais o exterior do copo e do prato, mas o interior está cheio de rapina e de iniquidade. Fariseu cego! Limpa primeiro o interior do copo e do prato, para que também o exterior fique limpo. Ai de vós, escribas e fariseus, hipócritas!Pois que sois semelhantes aos sepulcros caiados, que por fora realmente parecem formosos, mas interiormente estão cheios de ossos de mortos e de toda imundícia. Assim, também vós exteriormente pareceis justos aos homens, mas interiormente estais cheios de hipocrisia e de iniqüidade (Mt 23.23-25).


Há meses soube de um fato triste. Um importante pastor de uma grande denominação mantinha-se em adultério com pleno conhecimento de ministros. Entretanto, o adultério tornou-se público, não por confissão e arrependimento, mas por descuido. A cúpula denominacional simplesmente fez vista grossa até a bomba explodir. Porém, a igreja (ora, a igreja está cheia de pessoas sinceras que não se vendem) não aceitou. Resultado: o dízimo caiu, bem como outras contribuições financeiras. Mas pasme! O pastor adúltero foi premiado com a transferência a uma grande igreja. Agora, juntamente com sua amante, pode servir o “santo altar”. Igualmente, a saída do pastor anterior daquela igreja, agora assumida pelo pastor adúltero, também se deu por escândalo sexual: ele se envolveu homossexualmente com um jovem. Esse processo de imoralidade sexual traz consigo catástrofes existenciais inimagináveis para todas as esferas das vidas de pessoas.

Essas coisas não me escandalizam mais, pois já vi muitas semelhantes. Mas elas escandalizam muita gente, pois graças a Deus milhares de pessoas têm ainda um coração puro, como deve ser, e acredita na pureza e sinceridade de seus líderes espirituais, como também deve ser. Quando me deparo com tais relatos, pego-me pensando nos novos convertidos, nas crianças que estão sendo ensinadas, nos adolescentes e jovens num mundo cada vez mais bestializado sexualmente. Os pais das pessoas envolvidas, os cônjuges, os filhos...

Isso não pode ser banalizado. Isso não pode ser aceito. Isso não pode nos anestesiar. Meu desejo é que haja arrependimento, pois "quem abraça o espinheiro colherá mandacaru". Não haverá flores, rosas. O juízo de Deus vem independente da proteção ou não de uma cúpula religiosa.

Portanto, se você é crente mesmo, e quer seguir a Jesus com sinceridade; então cuide do seu coração, da sua mente e leia o Evangelho. Leia sempre os Evangelhos de Jesus (Mateus, Marcos, Lucas e João), mas com calma, mediante o Espírito de Deus e, em seguida, olhe para a realidade; você perceberá que os escândalos maiores que ainda virão é como disse Jesus: “só o princípio das dores”. Não devemos nos resignar com tais escândalos, mas não podemos evitá-los. O que podemos e devemos fazer é guardar nosso coração em Deus.

Paz e Bem!