segunda-feira, 16 de março de 2015

Ore, jejue e faça passeatas pacíficas, democráticas e patrióticas


Ontem não fui à manifestação que tomou as ruas do Brasil. Escolhi participar da Ceia do Senhor e do Batismo em Águas: ordenanças que aconteceram neste domingo na igreja em que congrego ― nada melhor do que vê nascidos de novo confessarem Cristo publicamente diante de Deus, da família e da Igreja. Creio piamente que o Brasil só será diferente quando grande parte do seu povo tiver um verdadeiro encontro com o Evangelho de Cristo (não o que se prega em nome dEle) e um sincero avivamento de dentro para fora acontecer nas igreja evangélica brasileira (o sinal claro desse avivamento é a quebra de um sistema de governo que emperra qualquer iniciativa simples e espontânea de um discípulo de Cristo). Entretanto, muitos irmãos em Cristo escolheram ir às ruas no dia de ontem.
Esses irmãos em nada “pecaram” contra o Senhor e à Igreja. É inadmissível em pleno século XXI, num momento crucial em que vivemos em nosso país, líderes religiosos dizerem: “crente não faz passeata, crente ora e jejua”. Com todo respeito a quem pensa diferente: crentes em Jesus ora e jejua, mas faz passeatas sim, desde que pacificamente. Não há pecado nisso, não há falta de fé, nem muito menos rebelião contra o governo central ― o nosso sistema governamental é tripartite: Poder Legislativo, Poder Executivo e Poder Judiciário; isto é, o presidente da república tem limites bem demarcados para exercer a sua função. E graças a Deus a nossa Constituição é democrática e quando o povo decide ir às ruas de maneira pacífica, ele está amparado constitucionalmente: “Todo o poder emana do povo, que o exerce por meio de representantes eleitos ou diretamente [indo às ruas, colhendo assinaturas para fazer aprovar leis como a Ficha Limpa, etc.], nos termos desta Constituição” (Artigo 1º, parágrafo único da Constituição Brasileira). O povo nas ruas é como se fosse o cliente que pagou pelo serviço e foi lesado pela empresa prestadora desse serviço. É direito desse cliente de reclamar, processar e denunciar a empresa que o lesou. De certo modo, a presidência da república, as empresas estatais e o funcionalismo público são servidores da sociedade brasileira. Eles têm contas a prestar aos cidadãos que pagam impostos ― e impostos altíssimos. De fato, neste domingo, a sociedade resolveu pedir contas e deu um recado claro à presidente da República e ao Partido dos Trabalhadores: não aguentamos mais o jeito de vocês governarem.
Portanto, oremos e jejuemos, mas saiamos às ruas quando necessário. Sempre de forma pacífica, responsável e coerente, pois é um direito assegurado pela nossa Constituição. Como cidadãos, devemos cumprir a Constituição Brasileira e reclamá-la quando quem deveria fazer cumpri-la se omite: “Aquele, pois, que sabe fazer o bem e o não faz comete pecado” (Tg 4.17).

Deus abençoe a nossa nação!

Paz e Bem!

P.S. 1 Quem pediu intervenção militar (diga-se: uma minoria em relação ao amplo movimento) não viveu o tempo da ditadura, e talvez nem saiba o que está sob a tutela de um governo despótico, seja essa ditadura de direita ou de esquerda. Além do mais, a intervenção defendia por alguns dentro do amplo movimento é inconstitucional e antidemocrática e, definitivamente, não resolverá o problema do país. Uma, das poucas cenas lamentáveis desse grandioso movimento nacional.

P.S. 2 Sou contra o impeachment da presidente, pois não há fatos concretos contra ela. Diferentemente do único presidente impedido pelo Congresso de governar, em que foi constatado depósitos não explicados nas contas particulares da secretária, do mordomo, da ex-mulher e da mãe, e despesas pessoais pagas pelo tesoureiro do seu partido, não há nada concreto nesse período de 3 meses de mandato que responsabilize a atual presidente da República.  Trocar governo não é como trocar de roupas. A sociedade precisa continuar cobrando, na esperança de que o Brasil retome o trilho até 2018, onde então, democraticamente e constitucionalmente, teremos direito de dar um sonoro “nãoooooooo” ao governo atual.

P.S. 3 É perfeitamente possível o Brasil ser o país do futebol e da política. Todo ato político é simbólico. E não houve nada mais simbólico do que as cores amarela e verde invadirem as ruas de nosso país. Diferente de sexta-feira, em que militantes pró-Dilma foram pagos pelos sindicatos, bancados por nós por intermédio das verbas públicas, escolheram as cores vermelhas do comunismo; os brasileiros preferiram o verde e o amarelo do Brasil e o hino nacional para dizer “basta!”. Não somos comunistas, somos brasileiros!

P.S. 4 Os crentes, como qualquer trabalhador brasileiro, não têm tempo de fazer passeata no dia de semana em pleno horário de expediente. O que resta é o período de tempo após o expediente (como aconteceu em junho de 2013) ou o domingo.


P.S. 5 Se na rua de acesso a uma igreja local passa uma ponte sobre um rio, cujas grades que protegem as pessoas de caírem nesse rio estão enferrujadas e quebradas há tempo, apenas esperando a primeira vítima para, em seguida, o órgão público responsável tomar a iniciativa que lhe cabe; o que impede uma igreja local de tirar fotos daquele fato, documentá-las, colher assinaturas de moradores e formalizar uma reclamação ao órgão público responsável? É mais produtivo para uma instituição religiosa ilibada denunciar o descaso público e solicitar a tomada de providência da questão do que uma pessoa física tentar fazê-lo. Mas após de o problema resolvido, virá a maior tentação da liderança local: a autoridade pública que solucionou a questão visitará a igreja a fim de receber dividendos eleitorais pela sua ação. É nesta hora que a Igreja Local deve dar “a César o que é de César”, isto é, agradecer gentilmente à autoridade pública por atender a reclamação da sociedade; mas igualmente “a Deus o que é de Deus”, ou seja, deixar claro para a autoridade que o que ela fez não foi mais do que a sua obrigação, e não o fez à Igreja, mas a sociedade que, consequentemente, a igreja está situada e que, acima de tudo, respeita os seus membros moradores daquela região e que precisam de acesso decente para ir e vir: o direito básico fundamental de qualquer cidadão. Aqui se faz ouvir mais ainda a advertência de Tiago, o irmão do Senhor: “Aquele, pois, que sabe fazer o bem e o não faz comete pecado” (Tg 4.17).

 

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