sexta-feira, 28 de dezembro de 2012

POR QUE NÃO SOU REFORMADO?


1. Porque creio na soberania divina sem excluir a liberdade humana e a sua capacidade de lidar com as próprias consequências.
2. Porque apesar de respeitar e de recorrer a tradição histórica das interpretações das Escrituras e da espiritualidade, definitivamente, penso eu, os reformadores não têm a última palavra sobre a Bíblia e a vida cristã.
3. Porque creio que o espírito do Evangelho está para além das instituições. Apesar de os ritos terem importâncias simbólicas, eles sufocam a liberdade no Espírito.
4. Porque não creio numa complexidade de burocracias eclesiásticas como elemento benéfico para a Igreja.   
5. Porque creio na atualidade dos Dons Espirituais e na plena realização destes através de pessoas simples, mas contrita e sincera (os leigos).
6. Porque creio no Batismo no Espírito Santo como uma segunda bênção extraordinária e inexplicável após a conversão.
7. Porque creio no dom de línguas, não apenas como idiomas humanos (xenolalia), mas como uma linguagem desconhecida concedida pela Graça de Deus, ainda que o meu entendimento não se beneficie dela (glossolalia).
8. Porque creio quando oro em línguas que o meu espírito edifica-se.
9. Porque apesar das Escrituras serem a única regra de fé e prática do cristão, a experiência mística com o Sagrado é essencial para a vida do discípulo de Jesus de Nazaré.
10. Porque sou brasileiro e como tal devo pensar com categorias que dialoguem com a minha cultura. Apesar de a fé reformada ser rica, ela é fruto da cultura europeia. Esta nem sempre terá respostas para a América Latina.

Paz e Bem!


sexta-feira, 14 de dezembro de 2012

SALMO 126: "Muda Senhor a nossa sorte"




No Salmo 126 está escrito:

1Quando o Senhor trouxe os cativos de volta a Sião, foi como um sonho. 2Então a nossa boca encheu-se de riso, e a nossa língua de cantos de alegria. Até nas outras nações se dizia: “O Senhor fez coisas grandiosas por este povo”. 3Sim, coisas grandiosas fez o Senhor por nós, por isso estamos alegres. 4Senhor, restaura-nos, assim como enches o leito dos ribeiros no deserto. 5Aqueles que semeiam com lágrimas, com cantos de alegria colherão. 6Aquele que sai chorando enquanto lança a semente, voltará com cantos de alegria, trazendo os seus feixes (Nova Versão Internacional - NVI).

Este salmo é denominado de Cântico dos Degraus ou Cântico das subidas ou, ainda, Cântico de Peregrinação. É uma oração coletiva em forma de louvor e súplica retratando o agradecimento a Deus pela libertação do exílio. Numa circustância de aflição e dificuldades o povo judeu relembra a grande libertação de Deus que se tornou num anúncio proclamatório para as nações vizinhas. Pois todas diziam “O Senhor fez coisas grandiosas por este povo”.
Exultação, sonho, milagre, alegria e letargia são expressões que descrevem o ato de libertação de um jugo opressor e injusto. Aconteceu assim em nossas vidas. Lembra da conversão ao Senhor? Que alegria inundada à alma. Coração cheio da graça de Deus. Desejo imenso de declarar em alto e bom som a “cachoeira de rios de águas vivas” brotando do nosso interior. Apesar de não ser identificável a precisão deste fenômeno, aqueles ao nosso redor falavam: “Coisas grandes têm feito o Senhor por Ele”. E imediatamente não titubeávamos em responder: “De fato, e de direito, grandes coisas fez o Senhor por mim e por isso estou alegre”.
O encontro com o meigo nazareno nos faz como crianças. Tamanha a ternura, a inocência, o encantamento, a simplicidade de estar em Jesus e Jesus em nós. No encontro com o nazareno, tamanhos desencontros são desfeitos e a verdade que há no coração passa a ser verdade sublime, pessoal e intransferível a partir do encontro feito com Jesus. Pois cada um, em Jesus, e só por Jesus, encontrou a sua verdade. Na verdade, se encontrou em Jesus. Pois a verdade somente é Jesus (Jo 1.1). É uma verdadeira metanoia ― transformação; mudança de mentalidade ― que aflorou a nossa mente e coração.
O povo judeu estava assim, abobado, inocente, alegre e feliz. Pois acabara de ser liberto de uma opressão que durava há anos de história. Era a história pessoal de cada pessoinha que ali estava. Só pelo rompimento psicológico e de espírito os indivíduos israelitas estavam extasiados pela libertação provida por Deus através do seu servo, Ciro, o rei persa — profetizado por séculos atrás pela boca do profeta Isaías. Mas este teor libertador de encantamento e a exultação frente a realidade da vida nua e crua da peregrinação israelita chocou o povo; por alguns instantes a fé da nação arrefeceu, pondo-a em estado de súplica. Por isso encontramos ali, no versículo 4, uma mudança brusca de ação. Outrora assombrados com a libertação, encantados com a exultação no Senhor; agora, os israelitas verberam e suplicam bruscamente:

“Senhor, restaura-nos, assim como enches o leito dos ribeiros no deserto — Que Javé mude a nossa sorte, como as torrentes do Neguebe (Bíblia Edição Pastoral)”

De uma alegria ímpar, com preocupação, o povo judeu passa a suplicar uma mudança de sorte desoladora. Que sorte é esta? — Poderíamos nos perguntar. Se formos libertos, que sorte precisa ser alterada? Se passamos pela metanoia, o que pode nos afligir?
A verdade é que ser liberto não significa apenas experimentar um outro estado psicológico ou espiritual. Mas constitui de viver um nova realidade existencial profunda. No caminho da restauração da cidade de Jerusalém, aquele povo reencontraria as suas tragédias e desolações passadas. O templo em escombros, Jerusalém demolida. Pessoas doentes, miseráveis e com sonhos perdidos. Esta era a verdade da existência daquele povo. Mas, qual é a sua verdade? Qual é a sua existencialidade?
Você olhar para a verdade do seu coração. Pense agora: Tanto tempo de igreja, grupo religioso e ativismos, mas a pergunta que não quer calar é: “como estar o meu coração”? A verdade é que o tempo passa, as circunstâncias da vida arrefecem a ternura, a simplicidade e a inocência do início. Não digo que você deve voltar lá, ao início, porque a jornada da vida é sempre para frente. Mas sem dúvida, podemos fazer uma seleção daquilo que é verdade em nós. Mesmo que esse encontro signifique chocar- se com o passado e suas melancolias, enfrentando as frustrações para encarar as desesperanças. Porque diante de tudo isso e debaixo de todos os escombros há uma promessa atemporal:

5Aqueles que semeiam com lágrimas, com cantos de alegria colherão.

Enfrentar a realidade da vida pode até arrancar lágrimas dos olhos. Mesmo assim vou plantando uma nova existência, cavando e escavando para acomodar uma nova semente que visa nascer para a vida. Pois no final do processo não terei dúvida:

6Aquele que sai chorando enquanto lança a semente, voltará com cantos de alegria, trazendo os seus feixes.

A minha existência e vivência trarão no bojo os feixes cheios. Cheios de significados para a vida. A vida em Deus. É o paralelismo entre “aquele que planta chorando” e “colhe com alegria”. Então a súplica dos degraus fará sentido para mim: “restaura Senhor, a nossa sorte como as correntes do Neguebe”. “Senhor, como Tu fizeste uma vez no ano, após uma torrente de água, aquele lugar de sequidão dar vida um belo jardim florido. Flores belas, clima arborizado e cheiro de esperança nutrirão a nossa alma e far-nos-ão subir para a vida em Deus. E no final do processo, “uma fonte de água” jorrará, dentro de nós, para vida. Seja ela eterna ou temporal; muda, ó Senhor, a nossa sorte!”


 

M.O.O.
Rio de Janeiro, RJ.

segunda-feira, 3 de dezembro de 2012

ISRAEL E PALESTINA, UMA GUERRA SEM FIM


Emitir opiniões desapaixonadas sobre o conflito do Oriente Médio não é fácil. No entanto, só vejo na blogosfera cristã, com rara exceção, pitacos destituídos do bom senso e do reconhecimento de um absoluto fato: o conflito no Oriente Médio é extremamente complexo em sua geopolítica. Por isso, aqui não pretendo afirmar absolutamente nada, pois me sinto desprovido dos instrumentos ideais para fazer uma análise desta natureza. Entretanto, expresso as minhas impressões do que vejo, leio e ouço.
Como cristão, acredito na legitimidade da nação de Israel na aquisição da originalmente Filistia-Palestina — posteriormente alterada para Palestina aproximadamente no ano 134 d.C pelo imperador romano Adriano. É fragrante a tentativa histórica de os romanos roubarem a judeia das mãos dos judeus. Assim aconteceu com os judeus no período do reinado de Adriano. Este inviabilizou o renascimento do judaísmo interligado ao Templo de Jerusalém. Esta é uma verdade histórica verossímil.
Quem são os palestinos? Não são palestinos! São árabes! Refugiados vítimas da liga árabe que atacou Israel no dia 15 de Maio de 1948, um dia após a fundação do estado judeu. Estes refugiados tiveram esperanças de possuírem uma terra prometida pela Liga Árabe em caso de vitória naquele ataque. Mas o planejado não deu certo. Israel venceu a guerra e os refugiados, na sua maioria, foram traídos pela Liga Árabe.
O que fazer, então? Estes refugiados precisam de terra. Mas não estão organizados para isso. Daí veio o pedido de um alto comissário da Palestina à Liga Árabe para a criação da OLP (Organização para a Libertação da Palestina).  A missão era a de inviabilizar o Estado de Israel.
Percebam que os palestinos são vítimas dos seus algozes: Liga Árabe e líderes radicais. É muito melindroso este tema. Pois de um lado tem-se a nação de Israel com o seu estado e do outro, palestinos que acreditaram na Liga Árabe e ficaram sem terra. Mulheres, crianças e jovens são usados sem dó e piedade pelos seus líderes radicais e moderados (o Hamas e o Fatah, respectivamente).
Os terroristas palestinos não têm qualquer compromisso com os direitos humanos, apesar dos representantes desse direito o defenderem. Mas Israel tem. Qualquer ataque nos assentamentos palestinos, Israel tem que justificar para a ONU a pretexto de sofrer sanções.
Solidarizo-me com os árabes palestinos que foram enganados pelos seus próprios líderes. Consterno-me com mulheres, crianças e jovens que sofrem nas mãos do Hamas e do Fatah. E, infelizmente, com os ataques de Israel. Mas sou absolutamente contra um estado palestino. Por um motivo muito simples: a criação de um estado palestino é a legalização de mais um poder totalitário e desumano árabe. Sim! Homens, mulheres e crianças, pelos auspícios da ONU e da mídia ocidental, sofrerão (como já sofrem) a barbárie legalizada. O ideal utópico, na minha perspectiva, era a de inserir os árabes palestinos como cidadãos isralenses (como muitos vivem lá atualmente). Sabendo de muitas implicações que isso pode gerar. Em Israel, é possível, judeus e palestinos viverem em paz. No estado palestino não. Mas este caminho é totalmente inviável, hoje.
Então, preparemo-nos: muitas mulheres e crianças, dos dois lados, morrerão. Muito sangue ainda será derramado sob a batuta da legitimidade de um estado. Paz entre árabes palestinos e judeus não haverá. Pois o âmago dos árabes radicais não é a paz; mas dizimar o estado de Israel com todos os seus habitantes, inclusive os árabes que lá residem. Enquanto temos dezenas de estados árabes, há apenas o estado judeu ali. E ele é democrático apesar do radicalismo judaico ali. É o que penso!

M.O.O.
Rio de Janeiro, RJ.

terça-feira, 6 de novembro de 2012

FRANK VIOLA: "O CONCEITO MODERNO DE IGREJA É UMA CAMA PROCRUSTIANA"


          "Na mitologia grega, um homem chamado Procrusto possuía uma cama mágica que tinha a propriedade singular de sempre corresponder ao tamanho da pessoa que se deitasse sobre ela. No entanto, por trás daquela 'mágica' havia um método não muito sofisticado para tornar possível à cama possuir tal propriedade. Se a pessoa deitada sobre a cama fosse muito pequena, Procrusto esticava os braços e pernas dela até corresponderem ao tamanha [o] da mesma. Se a pessoa fosse muito grande, Procrusto cortava fora os braços e pernas da pessoa fazendo-a caber exatamente no tamanho da cama.   
           O conceito moderno de igreja é uma cama procrustiana. Quando as Escrituras não se encaixam no tamanho da igreja institucional, uma de duas coisas acontece: ou elas são amputadas ou são esticadas até preencherem toda a fôrma. E a abordagem de estudo bíblico do tipo 'recorta-e-cola' facilita muito este processo tornando possível que se arranque das Escrituras (trocadilhos à parte) sempre aquilo que convém. Pinçamos vários versículos de seus contextos históricos ou cronológicos e depois os justapomos para criar uma doutrina ou legitimar uma prática. Em contrapartida, a narrativa cronológica proporciona um maior controle de nossa interpretação das Escrituras previnindo-nos contra o hábito de recortarmos e colarmos versículos aleatoriamente adequando assim a Bíblia às nossas ideias pré-concebidas.
         O fato é que muitas de nossas práticas eclesiásticas atuais carecem de mérito bíblico. Elas são práticas inventadas por homens e que antagonizam a natureza orgânica da igreja. Pois elas não refletem o desejo de Jesus Cristo, nem expressam sua primazia, nem tampouco espelham sua gloriosa pessoa (coisas para as quais a igreja existe!). Em vez disso, elas entronizam ideias e tradições de homens. E, como resultado, descaracterizam a expressão natural da igreja. Mesmo assim, justificamos tais práticas através de nossa hermenêutica do 'recorta-e-cola'".

VIOLA, Frank. "Reimaginando a Igreja: Para quem busca mais do que simplesmente um grupo religioso". 1. ed. Brasília - DF: Palavra, 2009, p.43.

sexta-feira, 2 de novembro de 2012

NOITE TRAIÇOEIRA

Ofereço esta linda canção àqueles que passam por um momento de dor. Não esqueçam: 

Há esperança apesar da dor!


segunda-feira, 22 de outubro de 2012

Nem obscurantismo, nem prepotência: No processo civilizatório, é preciso fugir dos extremos e habitar nas fronteiras - Pastor César Moisés Carvalho

Prezados,

Paz e Bem!

Reproduzo, neste espaço, um texto — daquele que considero ser, atualmente, um dos pensadores pentecostais mais culto no Brasil — do Pastor César Moisés Carvalho devidamente autorizado por ele. Esse artigo é revelador e denuncia que o que se entende por exercício apologético hoje, no mínimo, merece sérios questionamentos.
Devíamos nos perguntar: Para se fazer apologética é necessário ter um "espírito belicoso"? Devemos atacar e desdenhar a fé dos outros em nome de uma suposta fé? Criticar e ridicularizar a religião do outro é "fazer apologética"? A apologética deve ser prepotente ou solidária?  
Se você tiver folêgo, leia e tire as suas próprias conclusões:

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Apesar de viajar com certa frequência, raramente escrevo durante o voo. Em pouco mais de treze anos de viagem e algumas horas de voo, lembro-me de ter feito umas três ou quatro vezes. Hoje, porém, a caminho de Caldas Novas, interior do estado de Goiás, no trecho da ponte aérea tive o prazer de conversar durante uns 30 minutos com o físico brasileiro Marcelo Gleiser (Assim, a extraordinariedade do que estou fazendo agora é plenamente justificável). Os que leem este colunista sabem que Gleiser é um dos cientistas e autores agnósticos (Quando o mencionei como ateu, ele corrigiu-me: “Agnóstico, por favor. O ateu é quem acredita que Deus não existe e tem fé em sua ausência de fé”) a quem mais faço referência, sobretudo por sua visão ética, equilibrada e respeitosa a respeito da realidade. Simpático e extremamente acessível, não faz tipo e mostrou-se surpreso em saber que há boas possibilidades de um fecundo diálogo entre fé e razão nos círculos pentecostais: “É bom saber que há gente como você neste segmento religioso”, disse-me surpreso em certa altura de nosso bate-papo.
Não obstante o “elogio”, sua observação é na verdade um sinal de que o movimento pentecostal tem ainda uma longa caminhada rumo ao diálogo sadio com os diferentes atores que compõem a nossa sociedade plural e diversificada. Isso porque, a despeito de Gleiser ser agnóstico, nos dias 2 e 3 desse mês, participou do XIII Simpósio Internacional do Instituto Humanitas Unisinos (IHU), em São Leopoldo (RS), proferindo a conferência de abertura, tendo ainda, no outro dia, participado de uma mesa redonda com o professor e astrofísico George Coyne, do Observatório Vaticano e da Universidade do Arizona, Estados Unidos, tratando do tema: “Fé e ciência: um diálogo possível?”. Em termos diretos, outros segmentos cristãos estão promovendo o diálogo visando o entendimento e o crescimento mútuos no processo civilizatório de uma humanidade cambaleante por conta do individualismo que segrega e isola. E nós? O que temos feito no sentido de proporcionar as condições para o diálogo, sobretudo se partirmos do princípio da alteridade, evidenciado no amor ágape, do qual Jesus Cristo é a maior expressão?
Coincidentemente, na última semana, entre os dias 10 a 13, foi realizado no Riocentro, o 7° Congresso Nacional de Escola Dominical, que teve 2.215 participantes vindos de praticamente todos os estados da federação (Havia também brasileiros que residem em outros países). O assunto de minha plenária foi justamente “Fé e razão — Há possibilidade de ambas coexistirem na pós-modernidade?”. Durante o evento recebi das mãos de um dos participantes a revista da IHU (IHU-On-line, n°403, Ano XII, 24 de setembro de 2012), enviada que foi pelo meu amigo Adriano, mestrando em Teologia pela PUC-RS. No periódico semanal, cuja edição tratava justamente do referido simpósio, dentre o conteúdo, há uma entrevista com Marcelo Gleiser, intitulada: “O perigo do obscurantismo e da prepotência”, daí o porquê de o título desse meu texto.
Nessa breve entrevista, Gleiser toca em pontos que abordei no texto de minha conferência. É interessante notar a convergência de nossa visão a respeito da relação entre ciência (razão) e fé, mesmo sendo ele agnóstico e eu, crente (Algo que não deve deixar ninguém espantando, pois se trata apenas de honestidade intelectual de ambas as partes). Chamou-me a atenção a sua resposta à segunda pergunta da jornalista Márcia Junges que indagou: “Acredita que pode haver um diálogo autêntico entre ciência e fé? Por quê?” (p.12). Sua resposta foi precisa: “Sem dúvida. Ciência e fé são aspectos complementares de como compreendemos o mundo e nosso lugar nele, de como encontramos sentido em nossas vidas” (p.13). Em minha palestra, entre outras coisas, falei acerca da importância de se conhecer o milenar debate entre fé e razão, visando entender não simplesmente a própria história, mas também e, mais importante, a estrutura do pensamento ocidental. Em continuidade à sua resposta, Gleiser diz que “nenhum corpo de conhecimento, por si só, pode dar conta da complexidade da nossa existência”, ou seja, a “religião não pode ignorar os avanços da ciência; por sua vez, a ciência não pode proclamar que sabe como resolver questões que, ao menos no momento, estão muito além de sua competência” (p.13). Com isso, o físico brasileiro está dizendo que “é necessário evitar os excessos de ambas as partes”, e que o “perigo é, de um lado, o obscurantismo e, de outro, a prepotência” (p.13). Escrevi algo parecido no texto de minha plenária ao falar sobre o objetivo de minha discussão: “A proposta aventada nesse modesto trabalho caminha rumo a integração e orienta-se pela busca de manter a originalidade tanto da fé quanto da razão, sem que elas se diluam ou que se polarize culminando, por um lado, em racionalismo e, por outro, em fideísmo” (p.28).
Dissertei que, partindo do princípio da missão deixada por Jesus Cristo aos seus seguidores, é preciso produzir uma teologia pública que faça sentido não apenas intramuros, pois, como disse Alister McGrath, apesar de a coerência intrassistêmica ser uma qualidade a ser admirada, “é perfeitamente possível ter um sistema inteiramente coerente que não tenha nenhuma relação significativa [com] o mundo real” (Paixão pela Verdade, p.130). Por isso mesmo, a teologia pública precisa apresentar-se como uma teologia racional, isto é, inteligível, sem, contudo, pretender um racionalismo teológico (p.28). A escolástica na Idade Média e a teologia liberal nos séculos 19 e 20, para citar apenas dois casos, são exemplos emblemáticos e negativos de racionalismo teológico. Condicionar o que se crê ao que é, ou não, científico ou racional é outro perigo, pois como afirma Roger Haight, a “razão é sempre histórica, sendo, por definição, uma ação subjetiva. O termo ‘objetivo’ é temático; descreve a intenção e a meta de estabelecer as coisas em seu aspecto essencial, tal ‘como são’. Caso se pudesse determinar uma estrutura universal formal da compreensão e do conhecimento humanos por meio da análise transcendental, a objetividade seria abordada por ser deliberadamente atenta aos critérios dos vários níveis de evidência, ou seja, por uma subjetividade disciplinada. A razão, contudo, ainda não pode transcender sua historicidade” (Dinâmica da Teologia, p.58).
Nesse aspecto, a advertência de Marcelo Gleiser acerca da questão: “Qual é a relação entre a existência da matéria e da antimatéria com a existência de Deus?”, é extremamente responsável e até auxilia a crença: “Nenhuma. Matéria e antimatéria são aspectos complementares das partículas que compõem a realidade física do cosmo. Buscar por Deus nas brechas da ciência é uma estratégia que leva inevitavelmente ao fracasso; a ciência avança e esse Deus que ‘explicava’ o que não se sabia explicar torna-se desnecessário” (p.13). Os que querem manter a sua fé à custa do respaldo científico, e utilizam a “razão” e, consequentemente, a ciência, para validarem suas crenças e doutrinas acabam frustrados. Não precisa ir muito longe para perceber que o resultado tem sido muitas vezes tão desastroso quanto vexatório, pois o movimento deveniente da ciência (principalmente depois da descoberta do universo em expansão e da física quântica) modifica os resultados, levando ao descrédito os que amarram a fé ou a crença em determinada descoberta como, por exemplo, no “caso da cosmovisão newtoniana”, cuja perspectiva, diz Alister McGrath, “parecia, inicialmente, [com] os avanços da pesquisa científica confirma[r] certos temas centrais do ensino religioso tradicional, como, [...] a doutrina da criação. Mais tarde, o newtonianismo adquiriu tons anti-religiosos, principalmente quando parecia dispensar qualquer necessidade de Deus para o funcionamento do universo” (Fundamentos do diálogo entre Ciência e Religião, p.71).
Na mesma entrevista, o comentário de Gleiser acerca do fundamentalismo ateísta de Dawkins, Dennett, Harris e Hitchens (este último falecido em 2011), é de uma lucidez meridiana, pois reconhece que os chamados quatro cavaleiros do Apocalipse “pecam pelo excesso, pelo uso da mesma retórica virulenta que criticam nos extremistas religiosos”. E complementa: “Todo fundamentalismo é, por definição, exclusivista e destrutivo. Mesmo que muita gente ache que eles representam a posição da ciência, isso não é verdade. Existem muitos cientistas que, mesmo sendo ateus ou agnósticos, não adotam uma postura combativa em relação à fé. Esse tipo de atitude não só não leva a nada como é filosófica e extremamente ingênua. Basta dar uma olhada mais cuidadosa na ciência e em como ela funciona para entender que têm limitações essenciais, questões que estão além do seu alcance. Isso não significa que as pessoas de fé devam buscar Deus nos limites da nossa compreensão científica, mas que os cientistas precisam ter mais humildade em seus pronunciamentos sobre o que a ciência já compreende e o que é ainda mera especulação. Achar que todas as questões podem ser reduzidas ao método científico é privar a cultura humana de outros modos de compreensão. A realidade é bem mais rica que isso” (p.13). 
Uma vez que essa postura evidencia honestidade, humildade, disposição e abertura para aprender e assim compreender mais e mais a realidade, aproximando-se da fronteira do pensamento do outro e não apelando a um ou outro extremo, acredito sinceramente que as mesmas recomendações servem para os que cremos, não simplesmente como medida cautelar, mas também como demonstração virtuosa dos que ostentam a fé e afirmam-se seguidores de Cristo. O texto de 1Pedro 3.14-16 (citado como prescritivo para o “exercício apologético”), demonstra que duas posturas devem marcar os que foram alcançados pela pregação do Evangelho e abraçaram a fé: 1) Resignarem-se diante da possibilidade do padecimento injusto, ao mesmo tempo em que devem se alegrar no processo de sofrimento por amor à justiça; e 2) Reconhecerem a soberania de Cristo em todo o ser, estando assim dispostos a explicar — com modéstia, respeito e boa consciência —, visando promover no “oponente” difamador, não um sentimento de humilhação ou aniquilação derrotista por causa da argumentação cristã; antes uma sensação de agradável surpresa, proporcionada pelo fato de o crente ser justamente o contrário do que diziam (p.24). Esse tipo de apologética testemunhal aponta para um duplo movimento: 1) Dar inteligibilidade à mensagem do Evangelho, ao mesmo tempo em que 2) atua como uma forma de autocrítica (p.28).
O esclarecimento acerca das limitações científicas e, por inferência, da razão, aliado ao fato da distinção entre as crenças (o conteúdo do que se crê, portanto, cognitivo) e a fé (a abertura humana para crer), é o melhor caminho para proteger-nos da mentira de que o ser humano pode encontrar todas as respostas apelando para um ou outro polo. A complementação entre ambas é uma posição obrigatória, principalmente se for considerado a necessidade de uma teologia pública ou apologética testemunhal. “Neste contexto”, diz Hans Küng, “é importante não perder de vista a solidariedade. Toda a provocação e confrontação mútuas em teologia, por mais legítimas e necessárias que sejam, não devem levar à autopromoção, à defesa de interesses particulares, ao isolamento ou à separação. Pelo contrário, deveria conduzir ao entendimento espiritual, a um mútuo enriquecimento e a uma transformação de todos” (Teologia a caminho, p.211).
Finalmente, a última convergência entre o pensamento de Gleiser e o meu que desejo enumerar aqui. Ao dizer que “Ciência e fé devem coexistir e não insistir numa relação de dependência mútua” (p.13), o físico brasileiro com quem tive a honra de uma breve conversa hoje, alinha-se ao pensamento defendido em minha plenária no Congresso realizado na semana passada quando respondi a questão de se era possível ambas coexistirem na pós-modernidade: “Após a descoberta, inclusive de um mútuo reconhecimento, de que nem a fé nem a razão possuem todas as respostas, não é apenas possível que ambas coexistam na pós-modernidade — é necessário! O ser humano faz perguntas para as quais a razão e a ciência não podem oferecer respostas, principalmente para o sentido da vida, por isso o retorno do sagrado e de a fé tornar-se novamente relevante nesse tempo” (p.45).

terça-feira, 9 de outubro de 2012

PAUL WASHER FALA AOS CRISTÃOS BRASILEIROS

Transcrição
       Olá, meu nome é Paul Washer e estou aqui no Brasil pela primeira vez em meus 30 anos de ministério. Eu acabei de pregar e, agora, estou indo pregar em outro lugar, mas gostaria de dizer um oi e cumprimentar os cristãos aqui do Brasil.
Eu também quero encorajá-los a estudar as Escrituras e comparar o que vocês têm aprendido nas Escrituras com outros crentes piedosos ao longo das eras. Sejam muito cuidadosos com o evangelicalismo moderno e com todas essas coisas que estão acontecendo.
Aprendam a andar na simplicidade da obediência. Aprendam a andar em santidade. A maior paixão de vocês deve ser estar cada vez mais devotos à pessoa de Cristo. Entendê-lo, entender o que Ele fez por vocês e servi-lo com tudo o que vocês têm.
Nós vivemos em um mundo muito corrupto, agora. Um mundo que está extremamente caído e que expressa a sua raiva e hostilidade contra Deus. Devemos perceber que viver em um lugar tão corrupto também pode nos contaminar. Então, sejam muito cuidadosos com o modo que vocês andam. Não andem como o tolo, mas andem como o sábio.
Estudem a Bíblia todos os dias de suas vidas. Vivam em seus joelhos. Levem toda necessidade, “tudo a Deus em oração”.
Para vocês, jovens cristãos, uma das melhores coisas que eu posso recomendar é algo que tenho praticado por muitos anos: leiam sistematicamente toda a Bíblia. Comecem em Gênesis e leiam tudo até Apocalipse; e, quando acabar, comecem tudo de novo.  Outra coisa maravilhosa que irá ajudá-los a crescer no conhecimento da Palavra é: se enquanto lêem a Bíblia vocês não entenderem algo, peguem um caderno e escrevam uma breve pergunta sobre o que não entenderam e continuem lendo. O que acontecerá de maravilhoso é que, quando vocês voltarem a ler a Bíblia inteira novamente, pela segunda vez, vocês serão capazes de responder muitas das suas perguntas com as próprias Escrituras. Enquanto fazem isso, vocês crescerão gradualmente no conhecimento de Deus e de Cristo.
Outra coisa que quero recomendar é isto: se vocês estiverem estudando muito as Escrituras, horas por dia, mas sem oração, então muito desse conhecimento se tornará em orgulho e não produzirá muita piedade em suas vidas. Então, vocês precisam estudar as Escrituras, mas também precisam orar. A oração não é apenas intercessão, mas, também, simplesmente estar com Deus. Vocês poderiam inclusive estudar as Escrituras de joelhos. Muitas vezes, eu ajoelho ao lado de minha cama e coloco a Bíblia sobre ela e leio o texto de joelhos. Quando algo chama minha atenção, eu as elevo a Deus; e quando vejo algo nas Escrituras que não vejo em minha vida, peço para Deus me ajudar, naquele exato momento.
Sabe, o grande desejo de Deus para vocês é conformá-los a imagem de Seu Filho, Jesus Cristo. Isso não acontecerá se forem apáticos e passivos. Paulo fala inclusive de como precisamos nos disciplinar.
Deixe-me repetir isso. Estudar as Escrituras, mas sem pular por elas. Leia de Gênesis até Apocalipse. Além disso, vivam uma vida de oração; não somente a oração, mas também a memorização da Escritura, pois vocês não poderão ter a Bíblia aberta diante de vocês durante o dia inteiro. Então, aprendam a memorizar a Escritura. Vocês sabiam que existem pessoas que memorizaram o Novo Testamento inteiro, todos os Evangelhos, o livro inteiro dos Salmos, e coisas assim? Vocês também conseguem! Eu me lembro de conversar com um homem que é bem conhecido pela sua capacidade de memorização da Escritura. Eu disse: “irmão, Deus lhe deu um dom para memorizar tantos trechos das Escrituras”. Você sabe o que ele me disse? Ele disse: “Não, de forma nenhuma. Eu simplesmente me esforcei mais do que você”.
É isso que eu quero que vocês vejam. Para mim, não é fácil ler a Bíblia sempre, não é fácil orar, porque a carne odeia isso. Então, o que vocês precisam entender é que todos nós precisamos lutar contra a apatia. Todos nós precisamos lutar contra a preguiça espiritual. Porém, são aqueles que lutam contra isso que prevalecem e progridem em santidade. Isso é muito, muito importante. Vocês não se santificarão, vocês não crescerão em sua conformidade com Cristo sem fazer nada.
Deus os abençoe. Eu oro que Ele lhes prospere em tudo, conforme a Sua vontade. Deus os abençoe.
Por: Paul Washer © HeartCry Missionary Society | hcmissions.com
Entrevista, tradução e legenda: voltemosaoevangelho.com
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