quarta-feira, 23 de janeiro de 2013

Imagem e semelhança

Dora Kramer - O Estado de S.Paulo

Não surpreende a sem cerimônia com que o Congresso se prepara para eleger presidentes de suas duas Casas um deputado e um senador cujas trajetórias colidem com o decoro formalmente exigido para o exercício da atividade parlamentar.

A razão da naturalidade é a pior possível: o Parlamento não se dá ao respeito e isso não causa espanto nem move forças suficientes para mudar o curso da triste história.

A menos que o inesperado faça uma surpresa, daqui a duas semanas Henrique Eduardo Alves e Renan Calheiros serão os escolhidos para presidir a Câmara e o Senado, respectivamente, pelos próximos dois anos.

Ungido por força de um acordo de rodízio entre PT e PMDB firmado ainda no governo Lula, na reta final Alves está envolto em atmosfera de irregularidades relativas à destinação de emendas e verbas de representação parlamentar.

Antes, em 2002, havia sido obrigado a abrir mão da candidatura de vice-presidente da chapa de José Serra em decorrência de informações dadas pela ex-mulher, Mônica Azambuja, em processo de divórcio litigioso, sobre depósitos de R$ 15 milhões em contas sem a devida declaração, em paraísos fiscais mundo afora.

No quesito folha corrida, Calheiros quase chega a dispensar apresentação. É alvo de investigações por crime ambiental, é suspeito de comandar emissoras de rádio por meio de testas de ferro, em 2007 foi processado por falta de decoro parlamentar porque uma empreiteira pagou a pensão da filha que teve com a jornalista Mônica Veloso, na ocasião apresentou documentos fraudulentos ao Senado para comprovar rendimentos e finalmente renunciou à presidência da Casa em troca da manutenção do mandato.

A maioria dos senadores aceitou o escambo e o inocentou na votação secreta em plenário. A maioria, agora, ao que tudo indica, não vê nada demais em reconduzi-lo ao posto para cujo exercício era tido como moralmente impedido há seis anos.

Tanto tem consciência do disparate, que Calheiros é candidato na condição de sujeito oculto: ainda não se lançou oficialmente para reduzir o tempo de exposição a eventuais protestos.

Ao que se vê, no entanto, medida cautelar desnecessária, pois a despeito de resistências aqui e ali e de tentativas de apresentar candidaturas alternativas, não há disposição, interesse, força nem capacidade para reações.

E que não se culpe Henrique Alves ou Renan Calheiros por almejarem posições para as quais se exigiria o cumprimento estrito do manual da boa conduta. Ambos jogam para o futuro de suas carreiras nos Estados de origem, Rio Grande do Norte e Alagoas, territórios dominados e desprovidos de massa crítica.

O problema aí não é de quem pleiteia, mas de quem aceita de boa vontade e compactua com o pleito: governo e Congresso.

Ao Planalto pode até desconfortar o excesso de poder nas mãos do PMDB, partido de Alves e Calheiros. Mas, convenhamos, não desagrada que os dois eleitos sejam líderes feridos, sem a plenitude da credibilidade.

Já o Congresso não vota o Orçamento, defende mandatos de condenados, não examina vetos presidenciais, faz troça do instituto da CPI, deixa o governo pintar e bordar com medidas provisórias, debita na conta do contribuinte imposto de renda devido por suas excelências, só se mobiliza em defesa dos próprios privilégios, submete-se ao Executivo em troca de qualquer cafuné.

Sendo assim, nada de novo no front: Alves e Calheiros são comandantes à altura de um Parlamento em situação falimentar.

Fantasia chavista. Barack Obama tomou posse ontem de seu segundo mandato. Que diria o mundo se, doente, internado em outro país, o presidente dos Estados Unidos fosse considerado empossado em regime de continuidade com o aval da Suprema Corte sob a justificativa de que a norma constitucional é mera formalidade?

Fonte: http://www.estadao.com.br/noticias/impresso,imagem-e-semelhanca-,987177,0.htm. Acesso 23. Jan.

COMENTÁRIO

O texto de Dora Kramer retrata o que eu falei anteriormente. O que podemos esperar de um modelo político podre como esse instalado na política brasileira?

M.O.O

Rio de Janeiro, RJ.

 

terça-feira, 22 de janeiro de 2013

POLÍTICA: NEM SITUAÇÃO NEM OPOSIÇÃO, EU MARCO POSIÇÃO


Prezado leitor, você cansou da paralisia política que se instaurou no Brasil? Da recusa do executivo e do legislativo de debaterem os assuntos fundamentais para a nação, sem o interesse de A ou B, mas simplesmente pelo bem estar da sociedade? Da velha dualidade da “situação pela situação” e “oposição pela oposição”? Do fisiologismo político?
Então, lhe convido para fazer parte de uma revolução virtual que vem ganhando voz desde 2011. É o movimento da Nova Política, mas conhecido como os sonháticos. São pessoas comuns, trabalhadores diversos, gente da sociedade civil que se tornaram sujeitos autorais de uma proposta nova para a política no Brasil. Dentre os membros desse movimento estão aqueles que apóiam a criação de uma nova sigla partidária e outros que preferem continuar lutando independente de uma legenda. Estou entre os que apóiam a criação de um novo partido para marcar o rompimento com o atual modelo político praticado no Brasil.
O atual modelo político brasileiro é corrupto e corruptor. Ele obriga o cidadão a procurar caminhos, no mínimo obscuro, para atingir o seu objetivo político. Ele desincentiva a discussão profunda de temas essenciais para o interesse da nação. Por exemplo, o Pré-Sal. Temos um Congresso que só quer saber do dinheiro desta riqueza nacional. Mas não há uma linha de discussão sobre a tecnologia que se usará, que empresa será parceira da Petrobrás, quanto será o investimento, para onde será direcionado o recurso do Pré-Sal — Educação, Saúde, Segurança Pública — etc. Só se fala sobre quem receberá o dinheiro.
As igrejas evangélicas também têm responsabilidades com tema. Nossos representantes são eleitos dentro deste sistema corruptor. É natural que eles pratiquem atos nada republicanos, muito menos cristãos. Penso que está na hora de pensarmos o que queremos para o Brasil e agirmos. Não podemos nos omitir. Sejamos uma voz partidária ou apartidária. Juntos, podemos e nos faremos ouvir.
Portanto, lhe convido a participar hoje, às 19hs, do encontro dos sonháticos com Marina Silva, ex-ministra do Meio Ambiente e ex-senadora da República. O encontro se dará na rua Fidalga, 521 – Vila Madalena, São Paulo, para quem mora na cidade. Ou através do site Nova Política —  http://novapolitica.com.br/ — com transmissão ao vivo — quem não tem cadastro no site precisará se cadastrar para assistir. A reunião entre o coletivo pró-partido e Marina Silva objetiva propor a viabilidade da criação de uma nova sigla. Participe dessa ampla construção. Convido-lhe a marcar posição. É disso que o Brasil precisa. Pessoas que se posicionem.


Paz e Bem!

M.O.O.
Rio de Janeiro, RJ. 

segunda-feira, 14 de janeiro de 2013

Senador Roberto Requião escreve ao Genizah. Assunto: Comércio da fé na TV

Senador da Republica atende ao anseio dos blogueiros apologéticos e responde ao desafio feito nas redes sociais pelo fim do vergonhoso comércio religioso na TV aberta.

Roberto Requião foi três vezes governador do Paraná e prefeito de Curitiba. Hoje é Senador da República, Presidente da Rep. Bras. no Parlasul e Presidente da Comissão de Educação e titular das Comissões de Constituição e Justiça e de Assuntos Econômicos do Senado Federal. Requião enviou na última terça-feira (8/01/13) a seguinte carta ao Genizah:

Danilo Fernandes, que em seu perfil no twitter identifica-se como “cristão protestante e blogueiro diletante da arte de aporrinhar falsos profetas e vendilhões da fé”, diz que está orando “para que surja um político que tenha gana de passar uma lei acabando com o comércio religioso na TV”.
Eu topo, desde que o povo evangélico e católico, e os bons e sinceros cristãos protestantes como o Danilo, também dêem suporte á ideia.
Na verdade, o comércio religioso na TV, de que crença seja, incomoda-me há bom tempo. Nos dois últimos períodos em que governei Paraná, entre 2003 e 2010, era constantemente solicitado a ceder o espaço frontal do Palácio Iguaçu a grandes “happenings” desta ou daquela denominação evangélica. No centro das prédicas, a convocação dos fiéis para que pagassem os espaços que as denominações haviam comprado em emissoras de televisão.
Para que o apelo tivesse maior impacto, o pedido de dinheiro era entremeado de uma série de “milagres”. Cegos que recuperavam a visão, entrevados que, de repente, andavam lepidamente, vítimas de câncer, lombalgia ou espinhela caída que se viam livres da doença e dos incômodos.
Como cristão, não desfaço dos milagres, da intervenção sobrenatural, do incrível poder da fé. O que não posso aceitar são esses espetáculos de cura, essa evocação dos poderes de Deus como se eles fossem a mais banal das banalidades. Penso que a intervenção dos Conselhos Regionais e do Conselho Nacional de Medicina, dos Ministérios Públicos Estaduais e do Ministério Público Federal, ou para atestar a seriedade dos portentos ou para desmascarar os charlatães, seria não apenas desejável e sim obrigatória.
Não estou propondo a intervenção da ciência, do Estado, da Justiça nos assuntos da religião. Quero apenas que se separe o joio do trigo, como ensinam as Escrituras. O paralelo que o Danilo Fernandes faz entre os vendilhões do Templo com os vendilhões da fé, é irretocável.
Como também parece inevitável o paralelo entre o comércio da fé hoje e o comércio da fé nos estertores da Idade Média. A venda de indulgências, por exemplo, que provoca os protestos pioneiros do inglês John Wycliffe, dos tchecos Jan Huss e Jerônimo de Praga, antecessores das reformas propostas pelas 95 teses de Lutero, equipara-se, hoje, à venda da cura, da felicidade, da prosperidade, da salvação eterna, desde que você contribua financeiramente com as igrejas e os pastores televisivos.
Três vezes governador do Paraná e prefeito de Curitiba estabeleci com as igrejas evangélicas e católica parcerias magníficas, de grande resultados. Meus dois grandes companheiros em inúmeras iniciativas sociais eram, de um lado, o pastor Pimentel, da Assembleia de Deus e, de outro, o bispo católico Dom Agostinho Sartori. Quer no Governo, quer na Prefeitura testemunhei o papel essencial, vital que as igrejas desempenham na promoção humana, na solidariedade, na transformação das pessoas.
Abri a televisão pública estadual às igrejas, para que elas propagassem a fé e difundissem conceitos éticos e morais. Organizei festivais de música gospel, com a participação de todas as denominações religiosas. Procurei deixar bem clara a minha posição de respeito às igrejas e ao papel que desempenham na construção do processo civilizatório, na formação da cidadania.
Nada disso vejo na “igreja da televisão”. Elas pedem, mas não dão; elas prometem prosperidade, riqueza, desde que você pague. Com seu enorme poder de comunicação, não lideram campanhas em favor dos mais pobres, por hospitais, creches, pela redução da mortalidade materno-infantil, pela erradicação do analfabetismo, pela frequência escolar, contra o trabalhão escravo e contra a exploração da mão-de-obra infantil.
Quando lançou suas teses em 1517, Lutero dizia que cada protestante era “um pouco hussita”, lembrando o assassinato na fogueira do padre tcheco um século antes, condenado ao martírio por sua radical oposição ao comércio da fé. Sejamos também “um pouco luteranos” na firme oposição aos vendilhões de fé.
Sim, Danilo Fernandes, concordo, é preciso que isso tenha um paradeiro. No entanto, pergunto: seria necessário a coerção de uma lei para impedir o comércio da fé? Será que a educação, o esclarecimento e a argumentação, aos moldes dos reformistas dos séculos XIV e XV, não seriam o caminho indicado para combater essa novel simonia?
Quando fui prefeito de Curitiba (1986-89), de comum acordo com a Associação Inter-Religiosa de Educação, a Assintec, que reúne protestantes, católicos, mulçumanos, judeus, budistas e tantos outros credos, restabeleci o ensino religioso nas escolas municipais da cidade. Estava convencido, e continuo seguro, de que o ensino religioso (nada a ver com proselitismo) desempenha um papel importantíssimo na formação de crianças e jovens.
Não seria essa, caro Danilo, uma das frentes de combate para vencer a terrível heresia da mercantilização da fé?

Roberto Requião
Senador da República

Resposta do Genizah


Prezado Senador Roberto Requião,

Sua “carta” é, sem sombra de dúvidas, a resposta de muitas orações, não apenas as nossas, mas, cremos, a de centenas de milhares que não aprovam o que está acontecendo em nosso país com a fé evangélica, em especial com o comércio religioso nos meios de comunicação.

A bem da verdade, trata-se de um incômodo que, para além das confissões de fé e das tradições, desperta nos homens de bem, cristãos ou não, o desejo de fazer desagravo à exploração da espiritualidade dos mais ingênuos e insensatos. O que temos é um sistema perverso, um projeto de indústria - produção em massa / mídia de massa / cultura de massa –, crescendo diante dos olhos complacentes da sociedade e do governo. Casuísmo em favor de estelionatários da fé sob a proteção da liberdade religiosa.

Já há alguns anos utilizamos este espaço virtual para fazer apologética do Evangelho de Jesus Cristo. Aqui neste blog, somos um pequeno grupo composto em sua grande maioria por escritores, pensadores, filósofos, teólogos e pastores. Na internet somos milhares. Temos, todos, de forma profética, denunciado os desvios éticos, morais e doutrinários da Igreja Cristã de forma contundente e corajosa, o que já nos rendeu processos, difamações, ameaças, e outros inconvenientes. A internet reverbera o clamor dos remanescentes.

Vale salientar, não somos contra a pregação da boa mensagem da salvação. Muito pelo contrário! Não obstante, é notório que a situação na qual se encontra a igreja evangélica em nosso país chegou a limites insuportáveis. Púlpitos em todos os cantos do Brasil têm se levantado contra falsos mestres e suas vãs filosofias.

Estes fatos por si só já seriam por demais preocupantes. Agravam-se, contudo, em função do poder da mídia e dos recursos financeiros que tais grupos detém como que um grande arsenal a favor da indústria da religião. Temos a convicção de que a nossa luta não é material, e sim espiritual, mas também não ingênuos ao ponto de achar que ela se travará apenas entre “principados e potestades”.

Diante do exposto e da boa vontade e compreensão de V. Exa., depois de buscarmos a Deus e de estarmos em espírito de oração para que sejamos guiados segundo a vontade do Espírito Santo, estamos nos propondo a procurar irmãos de fé, servos que concordem que é hora de fazer um desagravo público a estes grupos, supostamente ditos evangélicos, com relação às práticas lesivas e abusivas que vêm praticando em nome da fé.

Nossa intenção é aproveitar esta oportunidade ímpar para incentivar um debate nacional sobre o tema. Para tal, iremos buscar o conselho de outros irmãos em posição de liderança, discutir a questão e tentar, junto com estes, reunir grupos de líderes da igreja evangélica brasileira, homens e mulheres de Deus, que possuam representatividade nacional, seja pelo papel que desempenham como escritores, pensadores, filósofos, jornalistas, editores, pregadores, mestres, líderes de instituições para-eclesiásticas, políticos, líderes denominacionais e outros tantos que desejem participar de um encontro objetivando a discussão da situação e a produção de um manifesto de desagravo a ser apresentado e debatido em evento público, para o qual, convidaremos V. Exa.

Certos de que estamos vivendo este momento histórico da fé evangélica no Brasil guiados pelo Espírito Santo, em temor e tremor diante dos desígnios do Deus Todo-Poderoso, unidos para lutar pela fé que foi entregue de uma vez por todas aos Santos e, na expectativa da volta de Jesus Cristo, Senhor nosso e da história, subscrevemo-nos,



Danilo Fernandes
Rubens Pirola
Carlos Moreira

Editores do Genizah
 
 
 

terça-feira, 8 de janeiro de 2013

REFLEXÃO DA TEOLOGIA CONTEMPORÂNEA: SOBRE A MONOPOLIZAÇÃO DA REIVINDICAÇÃO PROFÉTICA


"Quando nós, religiosos, discutimos sobre nossa identidade, podemos estar certos de que o adjetivo 'profético' não tardará a ser posto sobre a mesa. Nossos votos encontram-se em tamanha contradição com os valores da nossa sociedade, que é correto falar deles como de uma profecia do Reino. A exortação apóstolica Vita consecrata emprega essa palavra. Fico satisfeitíssimo quando alguém nos atribui esse adjetivo, porém mantenho-me reticente quando ouço os religiosos reivindicarem-no para si. Isso pode conter um tom de arrogância: 'Os profetas somos nós!' Com frequencia, não o sabemos. E tenho a impressão de que os verdadeiros profetas duvidariam em atribuir-se esse título. Tal como Amós, tendem a rejeitar tal pretensão, dizendo: 'Eu não sou profeta nem filho de profeta'. Prefiro pensar que somos aqueles que deixam atrás de si os sinais normais de identidade."

Fonte: RADCLIFFE, Timothy apud. QUEIRUGA, Andrés Torres. Pelo Deus do Mundo no Mundo de Deus: Sobre a essência da vida religiosa. 1.ed. São Paulo: Edições Loyola, 2003, p.15. 

sexta-feira, 28 de dezembro de 2012

POR QUE NÃO SOU REFORMADO?


1. Porque creio na soberania divina sem excluir a liberdade humana e a sua capacidade de lidar com as próprias consequências.
2. Porque apesar de respeitar e de recorrer a tradição histórica das interpretações das Escrituras e da espiritualidade, definitivamente, penso eu, os reformadores não têm a última palavra sobre a Bíblia e a vida cristã.
3. Porque creio que o espírito do Evangelho está para além das instituições. Apesar de os ritos terem importâncias simbólicas, eles sufocam a liberdade no Espírito.
4. Porque não creio numa complexidade de burocracias eclesiásticas como elemento benéfico para a Igreja.   
5. Porque creio na atualidade dos Dons Espirituais e na plena realização destes através de pessoas simples, mas contrita e sincera (os leigos).
6. Porque creio no Batismo no Espírito Santo como uma segunda bênção extraordinária e inexplicável após a conversão.
7. Porque creio no dom de línguas, não apenas como idiomas humanos (xenolalia), mas como uma linguagem desconhecida concedida pela Graça de Deus, ainda que o meu entendimento não se beneficie dela (glossolalia).
8. Porque creio quando oro em línguas que o meu espírito edifica-se.
9. Porque apesar das Escrituras serem a única regra de fé e prática do cristão, a experiência mística com o Sagrado é essencial para a vida do discípulo de Jesus de Nazaré.
10. Porque sou brasileiro e como tal devo pensar com categorias que dialoguem com a minha cultura. Apesar de a fé reformada ser rica, ela é fruto da cultura europeia. Esta nem sempre terá respostas para a América Latina.

Paz e Bem!


sexta-feira, 14 de dezembro de 2012

SALMO 126: "Muda Senhor a nossa sorte"




No Salmo 126 está escrito:

1Quando o Senhor trouxe os cativos de volta a Sião, foi como um sonho. 2Então a nossa boca encheu-se de riso, e a nossa língua de cantos de alegria. Até nas outras nações se dizia: “O Senhor fez coisas grandiosas por este povo”. 3Sim, coisas grandiosas fez o Senhor por nós, por isso estamos alegres. 4Senhor, restaura-nos, assim como enches o leito dos ribeiros no deserto. 5Aqueles que semeiam com lágrimas, com cantos de alegria colherão. 6Aquele que sai chorando enquanto lança a semente, voltará com cantos de alegria, trazendo os seus feixes (Nova Versão Internacional - NVI).

Este salmo é denominado de Cântico dos Degraus ou Cântico das subidas ou, ainda, Cântico de Peregrinação. É uma oração coletiva em forma de louvor e súplica retratando o agradecimento a Deus pela libertação do exílio. Numa circustância de aflição e dificuldades o povo judeu relembra a grande libertação de Deus que se tornou num anúncio proclamatório para as nações vizinhas. Pois todas diziam “O Senhor fez coisas grandiosas por este povo”.
Exultação, sonho, milagre, alegria e letargia são expressões que descrevem o ato de libertação de um jugo opressor e injusto. Aconteceu assim em nossas vidas. Lembra da conversão ao Senhor? Que alegria inundada à alma. Coração cheio da graça de Deus. Desejo imenso de declarar em alto e bom som a “cachoeira de rios de águas vivas” brotando do nosso interior. Apesar de não ser identificável a precisão deste fenômeno, aqueles ao nosso redor falavam: “Coisas grandes têm feito o Senhor por Ele”. E imediatamente não titubeávamos em responder: “De fato, e de direito, grandes coisas fez o Senhor por mim e por isso estou alegre”.
O encontro com o meigo nazareno nos faz como crianças. Tamanha a ternura, a inocência, o encantamento, a simplicidade de estar em Jesus e Jesus em nós. No encontro com o nazareno, tamanhos desencontros são desfeitos e a verdade que há no coração passa a ser verdade sublime, pessoal e intransferível a partir do encontro feito com Jesus. Pois cada um, em Jesus, e só por Jesus, encontrou a sua verdade. Na verdade, se encontrou em Jesus. Pois a verdade somente é Jesus (Jo 1.1). É uma verdadeira metanoia ― transformação; mudança de mentalidade ― que aflorou a nossa mente e coração.
O povo judeu estava assim, abobado, inocente, alegre e feliz. Pois acabara de ser liberto de uma opressão que durava há anos de história. Era a história pessoal de cada pessoinha que ali estava. Só pelo rompimento psicológico e de espírito os indivíduos israelitas estavam extasiados pela libertação provida por Deus através do seu servo, Ciro, o rei persa — profetizado por séculos atrás pela boca do profeta Isaías. Mas este teor libertador de encantamento e a exultação frente a realidade da vida nua e crua da peregrinação israelita chocou o povo; por alguns instantes a fé da nação arrefeceu, pondo-a em estado de súplica. Por isso encontramos ali, no versículo 4, uma mudança brusca de ação. Outrora assombrados com a libertação, encantados com a exultação no Senhor; agora, os israelitas verberam e suplicam bruscamente:

“Senhor, restaura-nos, assim como enches o leito dos ribeiros no deserto — Que Javé mude a nossa sorte, como as torrentes do Neguebe (Bíblia Edição Pastoral)”

De uma alegria ímpar, com preocupação, o povo judeu passa a suplicar uma mudança de sorte desoladora. Que sorte é esta? — Poderíamos nos perguntar. Se formos libertos, que sorte precisa ser alterada? Se passamos pela metanoia, o que pode nos afligir?
A verdade é que ser liberto não significa apenas experimentar um outro estado psicológico ou espiritual. Mas constitui de viver um nova realidade existencial profunda. No caminho da restauração da cidade de Jerusalém, aquele povo reencontraria as suas tragédias e desolações passadas. O templo em escombros, Jerusalém demolida. Pessoas doentes, miseráveis e com sonhos perdidos. Esta era a verdade da existência daquele povo. Mas, qual é a sua verdade? Qual é a sua existencialidade?
Você olhar para a verdade do seu coração. Pense agora: Tanto tempo de igreja, grupo religioso e ativismos, mas a pergunta que não quer calar é: “como estar o meu coração”? A verdade é que o tempo passa, as circunstâncias da vida arrefecem a ternura, a simplicidade e a inocência do início. Não digo que você deve voltar lá, ao início, porque a jornada da vida é sempre para frente. Mas sem dúvida, podemos fazer uma seleção daquilo que é verdade em nós. Mesmo que esse encontro signifique chocar- se com o passado e suas melancolias, enfrentando as frustrações para encarar as desesperanças. Porque diante de tudo isso e debaixo de todos os escombros há uma promessa atemporal:

5Aqueles que semeiam com lágrimas, com cantos de alegria colherão.

Enfrentar a realidade da vida pode até arrancar lágrimas dos olhos. Mesmo assim vou plantando uma nova existência, cavando e escavando para acomodar uma nova semente que visa nascer para a vida. Pois no final do processo não terei dúvida:

6Aquele que sai chorando enquanto lança a semente, voltará com cantos de alegria, trazendo os seus feixes.

A minha existência e vivência trarão no bojo os feixes cheios. Cheios de significados para a vida. A vida em Deus. É o paralelismo entre “aquele que planta chorando” e “colhe com alegria”. Então a súplica dos degraus fará sentido para mim: “restaura Senhor, a nossa sorte como as correntes do Neguebe”. “Senhor, como Tu fizeste uma vez no ano, após uma torrente de água, aquele lugar de sequidão dar vida um belo jardim florido. Flores belas, clima arborizado e cheiro de esperança nutrirão a nossa alma e far-nos-ão subir para a vida em Deus. E no final do processo, “uma fonte de água” jorrará, dentro de nós, para vida. Seja ela eterna ou temporal; muda, ó Senhor, a nossa sorte!”


 

M.O.O.
Rio de Janeiro, RJ.

segunda-feira, 3 de dezembro de 2012

ISRAEL E PALESTINA, UMA GUERRA SEM FIM


Emitir opiniões desapaixonadas sobre o conflito do Oriente Médio não é fácil. No entanto, só vejo na blogosfera cristã, com rara exceção, pitacos destituídos do bom senso e do reconhecimento de um absoluto fato: o conflito no Oriente Médio é extremamente complexo em sua geopolítica. Por isso, aqui não pretendo afirmar absolutamente nada, pois me sinto desprovido dos instrumentos ideais para fazer uma análise desta natureza. Entretanto, expresso as minhas impressões do que vejo, leio e ouço.
Como cristão, acredito na legitimidade da nação de Israel na aquisição da originalmente Filistia-Palestina — posteriormente alterada para Palestina aproximadamente no ano 134 d.C pelo imperador romano Adriano. É fragrante a tentativa histórica de os romanos roubarem a judeia das mãos dos judeus. Assim aconteceu com os judeus no período do reinado de Adriano. Este inviabilizou o renascimento do judaísmo interligado ao Templo de Jerusalém. Esta é uma verdade histórica verossímil.
Quem são os palestinos? Não são palestinos! São árabes! Refugiados vítimas da liga árabe que atacou Israel no dia 15 de Maio de 1948, um dia após a fundação do estado judeu. Estes refugiados tiveram esperanças de possuírem uma terra prometida pela Liga Árabe em caso de vitória naquele ataque. Mas o planejado não deu certo. Israel venceu a guerra e os refugiados, na sua maioria, foram traídos pela Liga Árabe.
O que fazer, então? Estes refugiados precisam de terra. Mas não estão organizados para isso. Daí veio o pedido de um alto comissário da Palestina à Liga Árabe para a criação da OLP (Organização para a Libertação da Palestina).  A missão era a de inviabilizar o Estado de Israel.
Percebam que os palestinos são vítimas dos seus algozes: Liga Árabe e líderes radicais. É muito melindroso este tema. Pois de um lado tem-se a nação de Israel com o seu estado e do outro, palestinos que acreditaram na Liga Árabe e ficaram sem terra. Mulheres, crianças e jovens são usados sem dó e piedade pelos seus líderes radicais e moderados (o Hamas e o Fatah, respectivamente).
Os terroristas palestinos não têm qualquer compromisso com os direitos humanos, apesar dos representantes desse direito o defenderem. Mas Israel tem. Qualquer ataque nos assentamentos palestinos, Israel tem que justificar para a ONU a pretexto de sofrer sanções.
Solidarizo-me com os árabes palestinos que foram enganados pelos seus próprios líderes. Consterno-me com mulheres, crianças e jovens que sofrem nas mãos do Hamas e do Fatah. E, infelizmente, com os ataques de Israel. Mas sou absolutamente contra um estado palestino. Por um motivo muito simples: a criação de um estado palestino é a legalização de mais um poder totalitário e desumano árabe. Sim! Homens, mulheres e crianças, pelos auspícios da ONU e da mídia ocidental, sofrerão (como já sofrem) a barbárie legalizada. O ideal utópico, na minha perspectiva, era a de inserir os árabes palestinos como cidadãos isralenses (como muitos vivem lá atualmente). Sabendo de muitas implicações que isso pode gerar. Em Israel, é possível, judeus e palestinos viverem em paz. No estado palestino não. Mas este caminho é totalmente inviável, hoje.
Então, preparemo-nos: muitas mulheres e crianças, dos dois lados, morrerão. Muito sangue ainda será derramado sob a batuta da legitimidade de um estado. Paz entre árabes palestinos e judeus não haverá. Pois o âmago dos árabes radicais não é a paz; mas dizimar o estado de Israel com todos os seus habitantes, inclusive os árabes que lá residem. Enquanto temos dezenas de estados árabes, há apenas o estado judeu ali. E ele é democrático apesar do radicalismo judaico ali. É o que penso!

M.O.O.
Rio de Janeiro, RJ.