sábado, 6 de abril de 2013

Zé Cláudio e Maria: julgamento dos acusados


Zé Cláudio e Maria: julgamento dos acusados


Foto: Felipe Milanez
Foi lamentável o resultado do julgamento dos acusados pelo assassinato dos extrativistas José Cláudio Ribeiro da Silva e Maria do Espírito Santo, mortos há dois anos, no assentamento Praialta-Piranheira, em Nova Ipixuna, sudeste do Pará.
 
Ontem (4/4), o júri popular absolveu o pecuarista José Rodrigues Moreira, apontado pelo Ministério Público como mandante da morte do casal. O irmão dele, Lindonjonson Silva Rocha, foi condenado a 42 anos e oito meses, por ter armado a emboscada, e Alberto Lopes Nascimento, apontado como autor do duplo homicídio, a 45 anos. 

A justificativa para a sentença foi a falta de provas que ligassem Moreira aos crimes.  Como resposta a promotoria anunciou que vai recorrer da decisão, proferida pelo juiz Murilo Lemos Simão. Os representantes de movimentos sociais que acampavam em frente ao fórum protestaram fechando a rodovia Transamazônica e apedrejando o prédio onde foi realizado o julgamento.

Em nota, a Anistia Internacional afirmou que "a impunidade dos crimes cometidos contra defensores de direitos humanos fortalece a ação daqueles que agem fora da lei e contra a preservação dos bens naturais do país. E mantém a luta dos defensores e defensoras dos direitos humanos como uma atividade de alto risco, na qual agressões e ameaças buscam sempre silenciar sua voz."

Enquanto não se tem uma nova resposta da Justiça à ação da promotoria, o clima de tensão e medo continua para Laísa Santos Sampaio, irmã de Maria do Espírito Santo, e uma das testemunhas de acusação. Ela está sofrendo ameaças de morte e, com a soltura de Rodrigues, fica ainda mais vulnerável. (saiba mais)

A Rede Sustentabilidade continuará a acompanhar o caso, ciente de que a solução para evitar crimes como este - e outros motivados pela disputa de terras para produção agropecuária -passa pela atuação efetiva do Estado. “No momento em que o governo abre mão de fazer esse papel, deixa a disputa acontecer entre forças que estão extremamente desiguais”, lembra Adriana Ramos, do Isa. Leis para garantir os direitos territoriais de comunidades já existem. O que falta é defendê-las e colocá-las em prática.
Meu comentário: O que esperar de um país que não tem a ousadia de intervir numa região absolutamente sem lei. Quantos Zés Cláudios, marias, irmãs Doroty precisarão morrer para que se escute o clamor desses sangues derramados. Alio-me ao posicionamento da ex-senadora Marina Silva. O estado brasileiro precisa intervir no Estado do Pará. Precisa fazer valer a lei que regulamenta os direitos territoriais das comunidades que vivem da terra. Os extrativistas não podem continuar matando pessoas a bel-prazer com a certeza da impunidade. 
Espero que como eu, você fique indignado com mais uma das milhares de injustiças presentes no Estado brasileiro.  

terça-feira, 26 de fevereiro de 2013

Um conselho para os pregadores:



"Não tentem tornar a Bíblia relevante. Sua relevância é axiomática [...]. Não defendam a Palavra de Deus, mas deem testemunho dela [...]. Confiem na Palavra."

(Dietrich Bonhoeffer)


P.S. METAXAS, Eric. BONHOEFFER: Pastor, Mártir, Profeta, Espião. 1.ed. São Paulo: Mundo Cristão, 2011, p.291.

segunda-feira, 11 de fevereiro de 2013

Bento XVI renunciará ao papado

O mundo acordou surpreendido na manhã de hoje. O papa Bento XVI anunciou que no dia 28 de Fevereiro, a partir das 20hs, deixará o cargo mais alto do Vaticano. Uma notícia que atingiu em cheio a organização da Jornada Mundial da Juventude que se realizará na cidade do Rio de Janeiro, no mês de Julho. Alegando problema de saúde física, Bento XVI afirmou não reunir mais condições  normais para enfrentar os grandes compromissos e desgastes de um cargo de dimensões complexas. O Bispo de Roma já dava indício de uma possível renúncia, como por exemplo, numa entrevista a um jornalista alemão, na obra publicada pela editora Paulinas - Luz do Mundo - Bento XVI afirmara que não ficaria no papado se após a um profundo exame de consciência constatasse a sua incompatibilidade física de prosseguir com o cargo. Com essa renúncia, o maior intelectual católico romano denota a necessidade de uma renovação na cúria romana.
O Arcebispo do Rio de Janeiro, Dom Orani Tempeste, em entrevista a imprensa para informar como a organização da Jornada Mundial da Juventude no Rio de Janeiro vê essa renúncia, também disse que Bento XVI chegou a falar se ele não fosse à Jornada o seu sucessor iria - pois desde 1980 é padrão o papa romano comparecer às todas as Jornadas Mundial da Juventude.
É natural que essa notícia faça sugerir possíveis nomes para a sucessão de Bento XI. Além de bispos latinos-americanos da Colômbia, da Argentina (dois) e do Peru, o nome do brasileiro Dom Odilo Sherer, Arcebispo de São Paulo, é muito bem lembrado. Mas essas especulações não passa disso, especulações. Como dizem os especialista da política no Vaticano: "No conclave, quem entra Papa sai Cardeal".
A renúncia do Papa Bento XVI trás, sem dúvida, muita reflexão para a nossa prática de governo eclesiástico. Perguntas como:
  1. Qual é a hora de um pastor parar? 
  2. O pastorado é vitalício?
  3. Como conciliar a linha tênue "renúncia pastoral" e "saúde da igreja"?

Devem ser respondidas após um sério exame de consciência e honestidade para conosco e as pessoas com quem lidamos. A natureza do cargo pastoral é divina, pois é Deus quem chama e vocaciona. Mas é humana também, pois é preciso saúde física e psicológica para exercê-lo com plenitude e competências físicas e espirituais.

P.S. Numa perspectiva da História Eclesiástica, estamos vivendo um momento histórico. Em toda a história dos papas romanos apenas um renunciou por vontade própria, foi na Idade Média: o Papa Celestino V - 1294. Bento XVI é o segundo Papa em toda a história da igreja romana a renunciar por livre e espontânea vontade. Acho interessante a análise de um especialista em fé e cultura da PUC - SP, quando ele responde a um jornalista sobre como o Papa ficará conhecido na história. Ele diz: "João Paulo II foi o Papa que fechou o ciclo do Modernismo. Bento XVI é quem abriu o ciclo do Pós-Modernismo".  

M.O.O.
Rio de Janeiro, RJ.

terça-feira, 5 de fevereiro de 2013

Quando virtudes podem virar vícios

Ricardo Gondim

Genialidade e loucura caminham próximas. De médico, juiz, comentarista de futebol, teólogo e doido tudo mundo tem um pouco. Não faltam histórias de pessoas inteligentes com um parafuso frouxo. Se gênios vivem entre a excepcionalidade e o lunatismo, todos, com atos e atitudes, perigam desequilibrar, tingindo a vida com a cor da maldade.
Bibliófilo assumido, gosto de sebos. Certa vez, caminhando pelos corredores empoeirados de um alfarrábio, notei uma enorme quantidade de livros empilhados; todos da mesma pessoa. O gerente relatou  que aqueles livros pertenceram a um burocrata, desses incansáveis batedores de ponto, que não tira férias. Chegou um novo chefe do departamento e diante da necessidade de re-organizar o setor, o impoluto empregado se viu obrigado a sair de férias – depois de 17 anos. Cumpridos os trinta dias de afastamento, o homem voltou para uma nova sala;  móveis, armários, cadeiras, tudo estava “fora do lugar”.
Revoltado com a nova disposição, o rígido e obediente funcionário não conseguiu se adequar. No sofá, onde gostava de ler, colocou o cano da pistola na boca e puxou o gatilho. O minucioso zelo pelo trabalho, a obsessiva disciplina, a inconformidade aos novos ventos, aprofundaram sua neurose. Pareceu-lhe melhor morrer a ter que amargar as transformações que o tempo impõe. Entre os livros empilhados, comprei um para nunca esquecer aquela história.
Sim, virtudes podem adoecer. Inteligência não previne sociopatia. Conservadorismo não significa saúde mental.
Sinceros correm o risco de se tornarem inconvenientes. É desagradável conviver com a transparência dos que têm o dever de se mostrarem cândidos. Calar certas verdades que vimos nos outros muitas vezes não é mentir, apenas respeitar. Dizer o que “dá na telha”  nem sempre expressa franqueza. Muitas vezes “confrontação” não passa de desejo de vingança. Sinceridade deve vir precedida pela graça.
Toda virtude pode descambar em vício. Os corajosos devem cuidar para não permitir que coragem se transforme em obstinação – e teimosos correm o risco de atropelar pessoas e sentimentos. Intrepidez sem equilíbrio pode transformar-se em obsessão.  Zelo sem moderação pode degenerar em ativismo. Diligentes, absorvidos no dever, podem sofrer da síndrome da “trabalholatria”. Justos mal sabem que messianismo lhes espreita em cada esquina.  Só se aproveita a integridade quando ela não induz à auto-veneração. Extrapolar na busca da perfeição desencadeia preciosismo, que leva à meticulosidade asfixiante. Gente exageradamente criteriosa se considera palmatória do mundo, xeretando o que não deve.
Fé pode degringolar no sério desvio da credulidade, deixando a pessoa sem bom senso. Provérbios afirma: “O inexperiente acredita em qualquer coisa, mas o homem prudente vê bem onde pisa” (14.15). No extremo oposto, fé pode gerar presunção; pessoas se imaginam com tanta certeza espiritual que alucinam, acreditando poderem se antecipar ao que Deus faria.
Andar ao lado de pessoas obcecadas por exigências sobre-humanas pode adoecer. Melhor caminhar com quem vive com leveza. Vale conviver com quem sabe relaxar, rir de si  mesmo e celebrar a vida despretensiosamente.

Soli Deo Gloria

Fonte: http://www.ricardogondim.com.br/meditacoes/vicios-e-virtudes/

sexta-feira, 1 de fevereiro de 2013

Santa Maria/RS: “propósito divino”, “contingência” e corrupção


Em respeito à tragédia que sucumbiu as vidas de 235 pessoas, na cidade de Santa Maria, no Rio Grande do Sul, não fiz nenhuma postagem durante esses dias. Tenho dificuldades de voltar a normalidade da vida após um momento de luto. Talvez seja por herança familiar. Lembro-me da minha avó desligando a televisão e chamando atenção dos netos, entre eles eu, que falavam alto no período de dias em que se deu um falecimento. É o respeito às pessoas enlutadas que me faz não ter o direito de me divertir, entreter ou comemorar alguma coisa — muito menos a de usar esta tragédia para engrandecer o meu nome como arauto da “reta doutrina” — no momento de dor. Sinto vergonha se isto acontece. É pessoal. Penso que não tenho direito nem de rir em respeito daqueles que choram. Repito, é pessoal. Mas cristão também.
Também acho que pessoa alguma tem o direito de, nesse momento, fazer “exegese” das causas teológicas da tragédia. Não é hora para isso. Há propósito divino nessa tragédia? Não sei. É contingência da vida? A tragédia poderia ser evitada? Certamente que sim. Aqui está o “x” da questão. Se aquela banda não fizesse pirotecnia, haveria a tragédia? Se a casa de shows cumprisse as normas de segurança, vidas poderiam ser salvas? Se as autoridades locais fiscalizassem honestamente a Kiss, esta incendiaria? Se não houvesse o emaranhado de corrupção burocrática, a fiscalização não seria eficaz e honesta?
Sim. Há um causador disso tudo. E não é o Deus de amor e justiça. É o Homem. Ele é quem escolhe a corrupção e a maldade. Ele é o facínora. O empresário com a sede de enriquecer a todo custo, colocando a segurança das pessoas em risco. A autoridade que, locupletada com ele, o empresário, não o investiga para não correr o risco de perder doações milionárias para campanhas políticas. A sociedade que se omite, assistindo tudo isso e fazendo de conta que vive no melhor país do mundo — futebol, carnaval, copa e olimpíadas. E Deus, onde Ele está nisso tudo? No mesmo lugar; agindo para que o empresário, a autoridade e a sociedade se arrependam dos seus Pecados e façam o que é correto em relação ao próximo (Lc 3.14). 
Amanhã, veremos os dois políticos mais corruptos do Brasil serem eleitos para os cargos mais importantes da república. E o que isso tem haver com Santa Maria, “contingência”, “propósito divino” e corrupção? Tudo. As maracutaias continuarão. As propinas serão a grande moeda de troca de favores para se abrir ou fechar casas de show. A população estará nas mãos desses políticos comprometidos com o sistema político atual. Este é a causa principal da corrupção brasileira. Enquanto isso a blogosfera evangélica “teologa entre si” e “o pai do jovem lunático fica atordoado vendo o seu filho sofrer, mas ninguém para curá-lo” (Mc 9.14-18) — com a ressalva das devidas exceções.
Se você está indignado, como eu, acesse o link abaixo, enviado pelo meu amigo e irmão Marcos Rodrigues e faça alguma coisa para registrar a sua indignação. Não podemos perder essa capacidade de indignar-se.

https://www.facebook.com/antonio.c.costa1/posts/459878610733057

Não. Essa tragédia não precisava acontecer pela simples irresponsabilidade das pessoas e entidades envolvidas.

Nele, que pode usar esta tragédia para nos despertar da letargia.

Paz e Bem!

M.O.O.
Rio de Janeiro, RJ.


SENADO DA REPÚBLICA VIRA AS COSTAS PARA A OPINIÃO PÚBLICA

O senador Renan Calheiros, PMDB/AL, atualmente denunciado pelo procurador-geral da República, é eleito com a esmagadora maioria do Senado Federal com 56 votos. Enquanto o senador Pedro Taques, PDT/MT, obteve 18 votos.

Repito, a ampla maioria do Senado Federal, a "Casa do Povo", mais uma vez não ouviu o povo.

Com lamento,

M.O.O.
Rio de Janeiro, RJ.

RENAN, NÃO!


Com o número total de assinaturas da petição-online que pede a eleição de um ficha limpa para a presidência do Senado -- e contra a possibilidade de eleição do senador Renan Calheiros, que foi denunciado pela Procuradoria Geral da República por suspeita de fraudes, este é o cartaz que será levado nesta sexta-feira ao Congresso Nacional por movimentos anticorrupção, como o Rio de Paz e o 31 de julho. O banner foi feito pelo Avaaz, uma comunidade de mobilização on-line, que já tem mais de 18 milhões de participantes em todo o mundo. Até agora, a petição contra Renan já atingiu mais de 278 mil assinaturas.
O senador Pedro Taques havia se comprometido a ir à tribuna do Senado depois que a petição atingisse a marca de cem mil assinaturas. Seu pronunciamento deve ocorrer hoje, se a presidência do Senado não impedir as manifestações dos parlamentares antes da eleição.