quarta-feira, 4 de abril de 2012

REFLEXÃO DA TEOLOGIA CONTEMPORÂNEA:

A CENTRALIDADE DE CRISTO NA TEOLOGIA



Por

Karl Barth

“Deverá ser evidente, no entanto, que o foco de sua atenção [a da Teologia] é o alvo da história de Israel e da palavra proclamada nela – e justamente por isso é a história de Jesus Cristo no testemunho das pessoas apostólicas do Novo Testamento. O que elas viram, ouviram e apalparam era a consumação da aliança na existência e epifania do parceiro humano obediente a Deus: do Senhor que viveu, padeceu e morreu como servo no lugar dos desobedientes, que ao mesmo tempo descobriu e cobriu a iniqüidade deles, que tomou sobre si e removeu sua culpa, que os re-uniu e reconciliou com seu parceiro divino. Elas perceberam que aquele que luta contra Deus fora vencido e superado na morte de Cristo. Perceberam na vida de Cristo um novo ser humano, o novo lutador por Deus – e assim viram que o nome de Deus era santificado, que seu reino chegava, que sua vontade era feita na terra. Foi-lhes concedido neste evento, acontecido no espaço e no tempo, “revelado na carne”, ouvirem a Palavra de Deus: como promissão, advertência e consolação dadas a todos seres humanos [...]”.        

Fonte: Introdução à Teologia Evangélica. 9. ed. São Leopoldo: Sinodal, 2007, p.24.   

 

segunda-feira, 26 de março de 2012

UM CHAMADO PARA AMAR A DEUS E O PRÓXIMO: Efésios 5.18-21; 6.5-9

Esboço do sermão pregado em um dos cultos semanais, no auditório Nels Nelson, da CPAD.


 

Por

Marcelo de Oliveira e Oliveira

 


 
I – INTRODUÇÃO À EPÍSTOLA AOS EFÉSIOS

1. A Universalidade da epístola:
·       É uma carta circular às igrejas de toda província da Ásia entre os anos 55-52 dC. Segundo Donald C. Stamps, editor geral da Bíblia de Estudo Pentecostal, editada pela CPAD, pode ser a mesma carta aos Laodicences mencionada por Paulo em Colossenses 4.16.  
2. Aspectos gerais:
·       É a carta que forma o grupo das quatro epístolas do cativeiro: aos Filipenses, a Filemon, aos Colossenses e aos Efésios. Ou seja, Paulo está preso quando redige a epístola aos Efésios. Provavelmente em Roma.
·       O tema central de Efésios é: o desígnio de Deus que desde toda eternidade foi oculto durante séculos. Mas, foi revelado e realizado em Jesus Cristo para a sua Igreja (Cl 1.26,27: “o mistério que esteve oculto desde todos os séculos e em todas as gerações e que, agora, foi manifesto aos seus santos; aos quais Deus quis fazer conhecer quais são as riquezas da glória deste mistério entre os gentios, que é Cristo em vós, esperança da glória”).
·       Em Efésios 1.15,16 a fé da igreja centrada no Senhor Jesus e o amor mútuo praticado por ela são elementos destacados pelo apóstolo Paulo na vida daquela comunidade cristã. Estes são os motivos de agradecimentos a Deus por essa Igreja, demonstrados na oração do apóstolo.

II – ANÁLISE DA PERÍCOPE 5.18-21

Quando falamos de enchimento do Espírito, logo nos reportamos a experiência de Atos 2.1 No entanto, o capítulo 5 de Efésios trata o assunto numa perspectiva comportamental como fruto do verdadeiro relacionamento espiritual com Deus (vv.1-3). Vejamos:
1. O versículo 18: Embriagues (gr. methyskesthe), realça a ideia de falta de autocontrole; Libertinagem (gr. asôtia), significa excesso comportamental, imoralidade. Mas, a expressão “Enchei-vos” (gr. plêpousthe) denota a tese de ser dominado pelo Espírito, absolutamente controlado por Ele.    
2. Os versículos 19 e 20: Somos cheios do Espírito quando vivenciamos em comunidade o verdadeiro culto espiritual [aqui, cânticos espirituais é consequência espontânea do Espírito]. Pelo Espírito Santo somos capacitados a sermos sujeitos um ao outro em amor.
3. O versículo 21: O amor é o resultado de ser cheio do Espírito. É a consequência natural do verdadeiro culto a Deus. Denota um espírito de sujeição por AMOR ao outro. O ser cheio do Espírito implica no amor mútuo da comunidade que se chama pelo nome do Senhor — o ato de servir a Deus se dá em duas dimensões: a vertical e a horizontal. Na vertical, amando e temendo o Senhor de todo o coração e pensamento; e na horizontal, amando sinceramente o próximo como a si mesmo (Mc 12.30,31). Esses são os mandamentos do Evangelho.2  

III – QUESTÕES APLICATIVAS

Temos de viver o amor cristão em todo e qualquer ambiente que Jesus deva ser apresentado. Antes do compromisso matrimonial, maternal e profissional somos servos de Deus e irmãos em Cristo Jesus. Por isso podemos destacar alguns desdobramentos do amor na relação funcionário → patrão (Efésios 6.5-9):3
1. Nos versículos 5,6. Nossas motivações, enquanto funcionários, devem estar em acatar a autoridade do patrão em respeito, andar em sinceridade de coração e temor a Cristo.
2. Nos versículos 7,8. Fazer o bem e buscar a perfeição no que se faz, não por causa do patrão, apenas, mas por Cristo Jesus e para a própria realização humana e pessoal.
3. No versículo 9. O tratamento dos patrões para com os funcionários deve ser no mesmo espírito dos funcionários para com os patrões. A Bíblia NVI assim descreve esse princípio: “Vocês, senhores [patrões], tratem seus escravos [funcionários] da mesma forma” (grifo meu). Logo, o princípio que deve nortear o relacionamento de ambos, funcionários e patrões, é o da disponibilidade de um servir o outro em amor como quem serve ao Senhor (Ef 5.21). Contra isso, diz as Escrituras Sagradas, não há lei (Gl 5.22,23). Paz e Bem!

NOTAS

1 No livro dos Atos dos Apóstolos o evangelista Lucas se utiliza de um recurso linguístico particular para citar o cumprimento literal do batismo com o Espírito Santo, predito por Jesus Cristo: “E todos foram cheios do Espírito Santo e começaram a falar em outras línguas, conforme o Espírito Santo lhes concedia que falassem” (At 2.4) ― Pois Jesus havia dito: “Porque, na verdade, João batizou com água, mas vós sereis batizados com o Espírito Santo, não muito depois destes dias” (At 1.5). Ou seja, a expressão “e todos foram cheios do Espírito Santo” é sinônima a “mas vós sereis batizados com o Espírito Santo”.
2 É nessa perspectiva, do culto verdadeiro ao Senhor e da disponibilidade de um se sujeitar ao outro, em amor, que o restante do capítulo cinco de Efésios até o versículo nove do capítulo seis, trata o tema do inter-relacionamento entre “esposo e esposa”; “pais e filhos”; “patrões e funcionários”. O apóstolo Paulo denota que ambos, em amor, devem se sujeitar ao outro para fazer o bem e se amarem em Cristo Jesus.  
3 Esse princípio pode ser aplicado em outros relacionamentos. Aqui, escolhemos a relação patrão e funcionário porque quando este sermão foi exposto, o público alvo era formado dentro desse contexto.

Obs: Sermão publicado na revista “Manual do Obreiro”, 2º Trimestre de 2012, editada Pela CPAD.


M.O.O.
Rio de Janeiro - RJ

sexta-feira, 16 de março de 2012

BACHAREL EM TEOLOGIA RECONHECIDO PELO MEC: UM DESAFIO PARA A IGREJA CONTEMPORÂNEA (PARTE II)


Prezados professores, entendemos o recado. Como bacharéis em Teologia, e reconhecidos pelo MEC, temos muito a dizer à sociedade. O nosso compromisso agora não é apenas com a igreja institucional, mas a partir desta, também com a sociedade atual; como afirma o teólogo britânico John Stott “somos sal e luz do mundo”.
A vida de Jesus de Nazaré mostra-nos como não podemos deixar de dialogar com aqueles que pensam diferente de nós. Assim disse o Dr. Paulo Roberto Gomes, “o diálogo abre portas para parcerias em tarefas comuns, para a convivência mais fraterna. Faz perceber as causas históricas das divisões e condenações, fatores de incompreensão de ambos os lados”.  
Entendemos que Teologia, segundo Karl Barth, “não pode ser feita de maneira desapaixonada”, mas com o objetivo de “superar os limites da lógica da razão moderna, apontando para a primazia do amor” e o perfeito compromisso com o Evangelho de Cristo. O teólogo tem uma dimensão profundamente teórica, mas vocacionalmente prática. Ele deve ter “Luz na mente e Fogo no coração”. Uma teologia sem espiritualidade é incompleta. Teologia também é Oração, Revelação, fogo que queima o interior. É instrumento que corrige, mas sentimento que acolhe. Não há teólogo sem espiritualidade!
Fazer teologia é pensar a fé. O ato de fé é o ponto de partida de toda Teologia. Logo, pensar a fé surge da espontaneidade daquele que crê. Por isso, Gustavo Gutiérrez diz que “a tarefa teológica é uma vocação suscitada e exercida no âmago da comunidade eclesial. Ela está a serviço da missão evangelizadora da Igreja”. Portanto, não há teólogo destituído da sua comunidade. Pois é a partir desta, que ele seguirá “os passos de Jesus, pondo em prática seus ensinamentos” e proclamando o Reino de Deus à sociedade.    

Senhoras e Senhores, encerro o discurso desta noite declamando uma poesia que retrata o anseio pelo compromisso prático com a sociedade na vida do ser humano e, por que não dizer, na de um teólogo. A autora dessa poesia é uma assembleiana. Que não é teóloga nos padrões convencionais da academia, mas trás em sua vida pública o exemplo do quanto se pode fazer teologia na vida, a partir da igreja, para a Sociedade:
            
Do arco que empurra a flecha
quero a força que dispara;
da flecha que penetra o alvo
quero a mira que o acerta.

Do alvo mirado
quero o que se fez desejado;
do desejo que busca o alvo
quero o amor por razão.

Só assim não terei armas;
só assim não farei guerras;
e assim fará sentido
meu passar por esta terra.

Sou o arco, sou a flecha;
sou o todo em metades;
sou as partes que se mesclam
nos propósitos e nas vontades.

Sou o arco por primeiro;
sou a flecha por segundo;
sou a flecha por primeiro;
sou o arco por segundo.


Buscai o melhor de mim
e terás o melhor de mim;
darei o melhor de mim
onde precisar o mundo.

(Marina Silva)


Muito Obrigado!

M.O.O.
Rio de Janeiro - RJ

quinta-feira, 15 de março de 2012

BACHAREL EM TEOLOGIA RECONHECIDO PELO MEC: UM DESAFIO PARA A IGREJA CONTEMPORÂNEA (PARTE I)


Por

Marcelo de Oliveira e Oliveira

Obs: Discurso proferido no auditório da CGADB em ocasião da cerimônia de colação de grau da turma de teologia "Karl Barth", no dia 14/05/2011.


Ilustríssimo diretor executivo da CPAD e da FUNEC, Dr. Ronaldo Rodrigues de Souza;
Ilustríssimo diretor geral da FAECAD, Pr. Marcos Tuler;
Ilustríssimo coordenador do curso de teologia da FAECAD, Pr. Germano Soares;
Digníssimos professores e formandos,
Senhoras e senhores.

Sejam as primeiras palavras deste encerramento de curso: Muito Obrigado!

Em primeiro lugar, a Deus, que na força do Espírito Santo deu-nos graça, segurança e paz; e pela sua iluminação, a inteligência e o conhecimento para laborarmos a construção do pensamento teológico.
Aos familiares (Cônjuges, Filhos e Pais) pelo apoio inestimável, o incentivo diário e por compreenderem nossa ausência em momentos importantes do cotidiano. O fazer teologia é, de fato, um exercício solitário.
Aos professores que, peregrinando conosco, apontaram o caminho sólido e autônomo da formação intelectual. Vocês desenvolveram um trabalho formidável, dando-nos demonstrações de cumplicidade no exercício do magistério.     
A direção da FAECAD, seu corpo administrativo e pessoal de apoio. As diversas tarefas realizadas pela turma Karl Barth, só foram possíveis porque vocês depositaram em nós o apoio e confiança.  
Hoje, encerramos um ciclo de aprendizado científico e de vida. Iniciado há quatro anos, este ciclo presenteou-nos momentos marcantes de parceria entre professores e alunos.  Foram muitas as trocas realizadas com os mestres: as fontes disponíveis de pesquisa, os debates em sala, os seminários. A cada teólogo que conhecíamos, ampliava-se mais nossa bagagem intelectual e éramos todos convidados a despertar o senso crítico.
Inseridos no contexto de diálogos e reflexões teológicas, nos preocupamos com o rumo que algumas comunidades eclesiásticas de nosso país tomaram. Constatamos que uma atividade acadêmica pioneira podia ser desenvolvida na FAECAD. Em 2009, junto à orientação do corpo docente; planejamos, organizamos e executamos o primeiro fórum teológico de nossa faculdade cujo tema era: “A Reforma ainda Fala?”.
Os objetivos do fórum eram claros: dar uma resposta à subversão que o evangelho vem sofrendo, facilitar o acesso da comunidade eclesiástica à reflexão teológica e aproximar a comunidade acadêmica da sociedade. Sem objetivar, portanto, qualquer interesse financeiro. Entendemos que o pensamento teológico deve ser desenvolvido e compartilhado a partir da das comunidades eclesiásticas vizinhas.
O sucesso do fórum muito nos animou! Percebemos que o corpo discente poderia contribuir eficazmente com a FAECAD. Assim, pela coordenação do acadêmico Walter Magno, foi aprovada pelo corpo discente da instituição, e em assembleia realizada no auditório do Júri, a fundação do primeiro Diretório Acadêmico de Teologia da FAECAD.  Demos o pontapé inicial desta empreitada acadêmica. Desejamos aos atuais acadêmicos da FAECAD todo sucesso à continuidade deste engajamento intelectual.
A turma de formando, Karl Barth, tem a consciência do papel pioneiro que exerceu ao longo desses quatro anos de FAECAD. Este reconhecimento não denota-nos qualquer sentimento de orgulho narcisista, mas o de ter compreendido a formação do ensino superior em Teologia como nova dimensão de responsabilidade eclesiástica e acadêmica. Dentre nós, sairão pastores, missionários, professores e cientistas da religião. Pessoas que souberam aproveitar a oportunidade desse engajamento intelectual e espiritual.

quinta-feira, 1 de março de 2012

PARABÉNS AOS 447 ANOS DA CIDADE DE SÃO SEBASTIÃO DO RIO DE JANEIRO, ETERNAMENTE MARAVILHOSA!



O Rio de Janeiro está comemorando hoje 447 anos, 1 de Março de 2012. Apesar de não termos muito a comemorar, numa perspectiva política, — a cidade vive a maior crise ética na política nunca vista antes nas esferas dos governos estadual e municipal — o povo do Rio de Janeiro, simpático por natureza, continua a tocar a vida com muito trabalho e muita luta. E o nosso patrimônio natural, que rendeu o título de uma das sete maravilhas do mundo contemporâneo, encanta esplendorasamente cariocas, brasileiros e estrangeiros — o mundo.
Aproveito a oportunidade para pedir as autoridades públicas que, embora não acredite no sentimento de amor pela cidade destes representantes que aí estão, tenham no mínimo responsabilidade com as nossas Praias, Florestas e Jardins; Educação, Saúde e Segurança; Ética Pública, Honestidade e Fraternidade; mas acima de tudo, com a nossa GENTE TRABALHADORA. Também, chamo atenção das igrejas cariocas! Que façam a sua parte em cuidar da cidade, porque afinal de contas, o Dono dessa maravilhosa jardineira nos colocou como seus mordomos.

Um abraço à cidade maravilhosa do Rio de Janeiro,

M.O.O.
Rio de Janeiro – RJ.

sexta-feira, 17 de fevereiro de 2012

REFLEXÃO DA TEOLOGIA CONTEMPORÂNEA



CRISTIANISMO SEM CRISTO


“Cristianismo sem Jesus Cristo vivo permanece necessariamente um cristianismo sem discipulado; e cristianismo sem discipulado é sempre cristianismo sem Jesus Cristo; é uma ideia, um mito”.

Por

Dietrich Bonhoeffer


Paz e Bem!

M.O.O.
Rio de Janeiro - RJ

sexta-feira, 10 de fevereiro de 2012

UM CHAMADO À SANTIDADE: Breve Análise de Romanos 1.1-7


Sermão pregado em um dos cultos semanais no auditório Nels Nelson da CPAD.

Por

Marcelo de Oliveira e Oliveira


Texto bíblico: Romanos 1.1-7


INTRODUÇÃO

No mundo atual é possível ser santo? No meio evangélico é comum confundir a expressão “santidade” com atribuições morais e vestimentas que caracterizam um estereótipo eclesiástico. No entanto, a Palavra de Deus nos ensina que a santidade ao Senhor é consequência da obra de regeneração efetuada por Deus através de Jesus Cristo, na Cruz do Calvário. Ele é quem enxerta em nós, segundo sua graça e soberania, uma nova vida; e chama-nos a viver “separado”, “crucificado” e “disponível” para cumprir a sua vontade no mundo. É o Altíssimo quem opera em nós tanto o querer como o efetuar! Portanto, devemos compreender que “santidade ao Senhor” é um chamado divino para viver os ideais do Reino de Deus no mundo contemporâneo. Nessa perspectiva, o apóstolo Paulo descreve aos Romanos a sua própria experiência (“Eu Paulo, servo de Jesus, chamado apóstolo e separado para o evangelho de Deus”) e espera que a igreja romana atenda o chamado para a santidade.

1. UM CHAMADO PARA SERVIR A JESUS E SER SEPARADO PARA O EVANGELHO (V.1)

Neste primeiro versículo do capítulo 1 (um) de Romanos, três palavras se destacam: “Servo”, “Chamado” e “Separado”. Estes termos indicam a disposição do apóstolo de identificar-se, para uma comunidade que não o conhece, como o autêntico representante do Evangelho de Cristo Jesus. Vejamos o significado e a designação de cada uma delas:

a) “Servo” → do gr. Doulos.
Pode ser um adjetivo que designa um “escravo” que pertence a alguém; Ser “sujeito” ou prestar “sujeição” ao seu senhor. Ainda, a expressão ho doulos e he doulê designa “escravo”, “escrava”, “servo”, “serva” respectivamente.1 Segundo o estudioso John Murray, a finalidade de o apóstolo Paulo usar a expressão “Servo” era a de afirmar, logo no início da epístola, “a inteireza de sua comissão e dedicação exclusiva a Cristo Jesus como Senhor”.2

b) “Chamado” → do gr. Klêtôs.
O que caracterizou a qualificação central do apostolado de Paulo foi o seu chamamento, a sua convocação por Cristo. Chamamento e apostolado é uma unidade no ministério do apóstolo, pois é a partir do chamado que se está investido para exercer a função apostólica. O Senhor Jesus foi quem chamou Paulo. Essa autoridade paulina, concedida por Cristo, é plenamente exposta em toda a fala e escrita do apóstolo dos gentios.

c) “Separado” do gr. Afôrismenos.
A expressão “separado para o evangelho de Deus” é paralela a “chamado para apóstolo”.3 É a dedicação intensa e eficaz ocorrida na vida do apóstolo Paulo por ocasião de seu chamamento. Ainda, a Bíblia TEB, dando ênfase a intensidade do chamamento Paulino, utiliza a expressão “posto a parte para anunciar o evangelho de Deus”.4   

Logo, a missão paulina foi estabelecida na disposição voluntária do apóstolo em ser enviado por Jesus a servir o evangelho aos gentios, onde estes nunca ouviram falar de Cristo. Nesse aspecto, o apóstolo Paulo é separado para proclamar o Evangelho de Deus e atestar a transformação divina experimentada em sua própria vida.

2. UM CHAMADO PARA PROCLAMAR O EVANGELHO (VV. 2-4)

a) O tema central (v.2)
A descrição da promessa de Deus proferida pelos profetas através das Sagradas Escrituras é acerca do Filho de Deus, nascido de mulher e declarado divino pelo “Espírito de santificação”. Este foi identificado na história da salvação como a Pessoa que conduziu todo o processo do evento histórico da encarnação de Jesus Cristo como o eterno Filho de Deus. Esse é o tema central do Evangelho.

b) Os estágios da história da encarnação de Jesus (vv.3,4)
As expressões paralelas nos versículos 3 e 4 explicam os dois estágios que denotam o ministério integral de Cristo Jesus: “nasceu” (v.3) → “declarado” (v.4); “Segundo a carne” (v.3) → “Segundo o Espírito de santificação” (v.4); “Da descendência de Davi” (v.3) → “Pela ressurreição dos mortos” (v.4). Esses paralelismos descrevem o processo histórico da encarnação de Jesus Cristo em “dois estágios sucessivos”: humanização e glorificação. Ainda, a expressão “Espírito de Santidade” designa a nova fase do processo histórico iniciada na revelação do Filho de Deus aos homens: Ele agora se revela glorificado através da ressurreição dentre os mortos (At 2.36; Ef 1.20-23; Fp 2.9-11; 1 Pe 3.21,22). 

3. EM CRISTO SOMOS CHAMADOS PARA SER SANTOS (VV.5-7)

a) Em obediência por fé (v.5)
A Graça e o apostolado concedidos pelo Senhor Jesus na vida de Paulo é para a proclamação do evangelho a todas as nações. Esse chamado representa o comprometimento de todo o coração e pensamento do discípulo à Pessoa de Jesus e à verdade do seu Evangelho. A Bíblia TEB usa a expressão “Que Jesus Cristo chamou”5  para denotar que os crentes romanos, e consequentemente a igreja, são chamados a serem discípulos de Jesus, no sentido de pertencerem exclusivamente a Ele e viverem a mais intensa comunhão cristã (1 Co 1.9).

b). Chamados por Deus (v.6)
A Bíblia TEB usa a expressão “Aos santos pelo chamado de Deus”.6 Esta expressão é o chamamento divino que torna aqueles crentes santos. Tudo acontece pelo chamamento divino. O Senhor nos chama a viver a vida na perspectiva de sua santidade!

c). Chamados para serdes santos (v.7)
Embora esse chamado seja para consagração exclusiva a Deus, é “impossível divorciar a integralidade do caráter santo no coração e na forma de viver do crente”.7 Esse é um chamamento para a vida! Viver para o Senhor, segundo a verdade do evangelho, é o nosso maior desafio nesse mundo. Por isso, devemos nos sentir “amado de Deus”, pois o nosso chamado para ser santo só é possível porque a graça divina nos elegeu e chamou-nos para fazer aquilo que apraz ao Senhor.

CONCLUSÃO

Talvez você esperasse uma exposição sobre a santidade que lhe dissesse: “não pode isso”, “não pode aquilo” ou “não faça isso”. É comum tratar esse aspecto do ensino cristão como a forma tradicional do “pode” e “não pode”. Mas a verdade a respeito da possibilidade de viver a verdadeira santidade é: se o evangelho não preencher a mente e o coração do discípulo, e se este não desejar ardentemente pensar, sentir e se mover no evangelho de Jesus de Nazaré, a santidade não passa de mera moralidade.
Santidade ao Senhor não está na obrigação daquilo que penso em fazer, mas na certeza do que já foi feito por mim através do calvário. Então, como resultado do Calvário; demonstro em ações o meu compromisso com Cristo Jesus (Ef 2.8-10).
Perguntamos na introdução dessa breve análise “se no mundo atual é possível ser santo?”. Creio não haver dúvidas a esse respeito. Pois o nosso compromisso de santidade em Jesus. O Cristo nos capacita a viver em verdade e santidade, mesmo sabendo da luta diária contra a nossa própria natureza como prova de amor ao Senhor, segundo Agostinho de Hipona: “A permanência da Concupiscência em nós, é uma maneira de provarmos a Deus o nosso Amor a ele, lutando contra o pecado por Amor ao Senhor; é, sobretudo, no rompimento radical com o pecado que damos a Deus a prova real do nosso Amor. 8
Portanto, sejamos santos em Cristo Jesus, pois é o Senhor quem nos chama!   

NOTAS

1TAYLOR, W.C. Dicionário do Novo Testamento Grego. 10.ed. Rio de Janeiro: Imprensa Batista Regular, 2001, p. 61.
2 MURRAY, John. Comentário Bíblico Fiel: Romanos. 1.ed. São José dos Campos – SP: Editora Fiel, 2003, p.30.
3 Romanos 1.1 – FERREIRA, João Ferreira (Traduzida em Português). A Bíblia Sagrada: Revista e Atualizada no Brasil. 2.ed. Barueri – SP: Sociedade Bíblica do Brasil, 1999, p.124.  
4 Romanos 1.1 – RODRIGUES, Fidel Garcia; GALACHE, Gabriel C. (Ed. Bras.) A Bíblia, Tradução Ecumênica. São Paulo: Edições Loyola e Editora Paulinas, 2002, p. 1384. 
5 Ibidem, 2002.
6 Ibidem.
7 MURRAY, John. Comentário Bíblico Fiel: Romanos. 1.ed. São José dos Campos – SP: Editora Fiel, 2003, p.44.
8 AQUINO, Felipe. Cleofas, Escola da Fé. http://www.cleofas.com.br/virtual/texto. php?doc=ESPIRITUALIDADE&id=esp0179. Acesso em: 02 de Jul. de 2011.

Sermão publicado no "Manual do Obreiro: Sermonário. Rio de Janeiro, Ano 35 – nº 56 – 1º Trimestre de 2012. p. 87-89".