sexta-feira, 10 de fevereiro de 2012

UM CHAMADO À SANTIDADE: Breve Análise de Romanos 1.1-7


Sermão pregado em um dos cultos semanais no auditório Nels Nelson da CPAD.

Por

Marcelo de Oliveira e Oliveira


Texto bíblico: Romanos 1.1-7


INTRODUÇÃO

No mundo atual é possível ser santo? No meio evangélico é comum confundir a expressão “santidade” com atribuições morais e vestimentas que caracterizam um estereótipo eclesiástico. No entanto, a Palavra de Deus nos ensina que a santidade ao Senhor é consequência da obra de regeneração efetuada por Deus através de Jesus Cristo, na Cruz do Calvário. Ele é quem enxerta em nós, segundo sua graça e soberania, uma nova vida; e chama-nos a viver “separado”, “crucificado” e “disponível” para cumprir a sua vontade no mundo. É o Altíssimo quem opera em nós tanto o querer como o efetuar! Portanto, devemos compreender que “santidade ao Senhor” é um chamado divino para viver os ideais do Reino de Deus no mundo contemporâneo. Nessa perspectiva, o apóstolo Paulo descreve aos Romanos a sua própria experiência (“Eu Paulo, servo de Jesus, chamado apóstolo e separado para o evangelho de Deus”) e espera que a igreja romana atenda o chamado para a santidade.

1. UM CHAMADO PARA SERVIR A JESUS E SER SEPARADO PARA O EVANGELHO (V.1)

Neste primeiro versículo do capítulo 1 (um) de Romanos, três palavras se destacam: “Servo”, “Chamado” e “Separado”. Estes termos indicam a disposição do apóstolo de identificar-se, para uma comunidade que não o conhece, como o autêntico representante do Evangelho de Cristo Jesus. Vejamos o significado e a designação de cada uma delas:

a) “Servo” → do gr. Doulos.
Pode ser um adjetivo que designa um “escravo” que pertence a alguém; Ser “sujeito” ou prestar “sujeição” ao seu senhor. Ainda, a expressão ho doulos e he doulê designa “escravo”, “escrava”, “servo”, “serva” respectivamente.1 Segundo o estudioso John Murray, a finalidade de o apóstolo Paulo usar a expressão “Servo” era a de afirmar, logo no início da epístola, “a inteireza de sua comissão e dedicação exclusiva a Cristo Jesus como Senhor”.2

b) “Chamado” → do gr. Klêtôs.
O que caracterizou a qualificação central do apostolado de Paulo foi o seu chamamento, a sua convocação por Cristo. Chamamento e apostolado é uma unidade no ministério do apóstolo, pois é a partir do chamado que se está investido para exercer a função apostólica. O Senhor Jesus foi quem chamou Paulo. Essa autoridade paulina, concedida por Cristo, é plenamente exposta em toda a fala e escrita do apóstolo dos gentios.

c) “Separado” do gr. Afôrismenos.
A expressão “separado para o evangelho de Deus” é paralela a “chamado para apóstolo”.3 É a dedicação intensa e eficaz ocorrida na vida do apóstolo Paulo por ocasião de seu chamamento. Ainda, a Bíblia TEB, dando ênfase a intensidade do chamamento Paulino, utiliza a expressão “posto a parte para anunciar o evangelho de Deus”.4   

Logo, a missão paulina foi estabelecida na disposição voluntária do apóstolo em ser enviado por Jesus a servir o evangelho aos gentios, onde estes nunca ouviram falar de Cristo. Nesse aspecto, o apóstolo Paulo é separado para proclamar o Evangelho de Deus e atestar a transformação divina experimentada em sua própria vida.

2. UM CHAMADO PARA PROCLAMAR O EVANGELHO (VV. 2-4)

a) O tema central (v.2)
A descrição da promessa de Deus proferida pelos profetas através das Sagradas Escrituras é acerca do Filho de Deus, nascido de mulher e declarado divino pelo “Espírito de santificação”. Este foi identificado na história da salvação como a Pessoa que conduziu todo o processo do evento histórico da encarnação de Jesus Cristo como o eterno Filho de Deus. Esse é o tema central do Evangelho.

b) Os estágios da história da encarnação de Jesus (vv.3,4)
As expressões paralelas nos versículos 3 e 4 explicam os dois estágios que denotam o ministério integral de Cristo Jesus: “nasceu” (v.3) → “declarado” (v.4); “Segundo a carne” (v.3) → “Segundo o Espírito de santificação” (v.4); “Da descendência de Davi” (v.3) → “Pela ressurreição dos mortos” (v.4). Esses paralelismos descrevem o processo histórico da encarnação de Jesus Cristo em “dois estágios sucessivos”: humanização e glorificação. Ainda, a expressão “Espírito de Santidade” designa a nova fase do processo histórico iniciada na revelação do Filho de Deus aos homens: Ele agora se revela glorificado através da ressurreição dentre os mortos (At 2.36; Ef 1.20-23; Fp 2.9-11; 1 Pe 3.21,22). 

3. EM CRISTO SOMOS CHAMADOS PARA SER SANTOS (VV.5-7)

a) Em obediência por fé (v.5)
A Graça e o apostolado concedidos pelo Senhor Jesus na vida de Paulo é para a proclamação do evangelho a todas as nações. Esse chamado representa o comprometimento de todo o coração e pensamento do discípulo à Pessoa de Jesus e à verdade do seu Evangelho. A Bíblia TEB usa a expressão “Que Jesus Cristo chamou”5  para denotar que os crentes romanos, e consequentemente a igreja, são chamados a serem discípulos de Jesus, no sentido de pertencerem exclusivamente a Ele e viverem a mais intensa comunhão cristã (1 Co 1.9).

b). Chamados por Deus (v.6)
A Bíblia TEB usa a expressão “Aos santos pelo chamado de Deus”.6 Esta expressão é o chamamento divino que torna aqueles crentes santos. Tudo acontece pelo chamamento divino. O Senhor nos chama a viver a vida na perspectiva de sua santidade!

c). Chamados para serdes santos (v.7)
Embora esse chamado seja para consagração exclusiva a Deus, é “impossível divorciar a integralidade do caráter santo no coração e na forma de viver do crente”.7 Esse é um chamamento para a vida! Viver para o Senhor, segundo a verdade do evangelho, é o nosso maior desafio nesse mundo. Por isso, devemos nos sentir “amado de Deus”, pois o nosso chamado para ser santo só é possível porque a graça divina nos elegeu e chamou-nos para fazer aquilo que apraz ao Senhor.

CONCLUSÃO

Talvez você esperasse uma exposição sobre a santidade que lhe dissesse: “não pode isso”, “não pode aquilo” ou “não faça isso”. É comum tratar esse aspecto do ensino cristão como a forma tradicional do “pode” e “não pode”. Mas a verdade a respeito da possibilidade de viver a verdadeira santidade é: se o evangelho não preencher a mente e o coração do discípulo, e se este não desejar ardentemente pensar, sentir e se mover no evangelho de Jesus de Nazaré, a santidade não passa de mera moralidade.
Santidade ao Senhor não está na obrigação daquilo que penso em fazer, mas na certeza do que já foi feito por mim através do calvário. Então, como resultado do Calvário; demonstro em ações o meu compromisso com Cristo Jesus (Ef 2.8-10).
Perguntamos na introdução dessa breve análise “se no mundo atual é possível ser santo?”. Creio não haver dúvidas a esse respeito. Pois o nosso compromisso de santidade em Jesus. O Cristo nos capacita a viver em verdade e santidade, mesmo sabendo da luta diária contra a nossa própria natureza como prova de amor ao Senhor, segundo Agostinho de Hipona: “A permanência da Concupiscência em nós, é uma maneira de provarmos a Deus o nosso Amor a ele, lutando contra o pecado por Amor ao Senhor; é, sobretudo, no rompimento radical com o pecado que damos a Deus a prova real do nosso Amor. 8
Portanto, sejamos santos em Cristo Jesus, pois é o Senhor quem nos chama!   

NOTAS

1TAYLOR, W.C. Dicionário do Novo Testamento Grego. 10.ed. Rio de Janeiro: Imprensa Batista Regular, 2001, p. 61.
2 MURRAY, John. Comentário Bíblico Fiel: Romanos. 1.ed. São José dos Campos – SP: Editora Fiel, 2003, p.30.
3 Romanos 1.1 – FERREIRA, João Ferreira (Traduzida em Português). A Bíblia Sagrada: Revista e Atualizada no Brasil. 2.ed. Barueri – SP: Sociedade Bíblica do Brasil, 1999, p.124.  
4 Romanos 1.1 – RODRIGUES, Fidel Garcia; GALACHE, Gabriel C. (Ed. Bras.) A Bíblia, Tradução Ecumênica. São Paulo: Edições Loyola e Editora Paulinas, 2002, p. 1384. 
5 Ibidem, 2002.
6 Ibidem.
7 MURRAY, John. Comentário Bíblico Fiel: Romanos. 1.ed. São José dos Campos – SP: Editora Fiel, 2003, p.44.
8 AQUINO, Felipe. Cleofas, Escola da Fé. http://www.cleofas.com.br/virtual/texto. php?doc=ESPIRITUALIDADE&id=esp0179. Acesso em: 02 de Jul. de 2011.

Sermão publicado no "Manual do Obreiro: Sermonário. Rio de Janeiro, Ano 35 – nº 56 – 1º Trimestre de 2012. p. 87-89".

2 comentários:

Kenner Terra disse...

Olá Marcelo,


Graça e Paz.

Através da visita e comentário no Blog Kenner Terra cheguei a este ambiente virtual. Parabéns pelo blog e sermão postado, uma bela exposição.

Abraço

Kenner Terra

Marcelo Oliveira de Oliveira disse...

Caro Kenner,

Obrigado pela visita. Saiba que, para mim, o seu espaço virtual é inspirador. Seja muito bem vindo!

Um abraço,

M.O.O.
Rio de Janeiro - RJ